Colorado Esporte Clube: um time de coragem e raça

17 de abril de 2016 12:41 2075

O Jornal VOZ está publicando entrevistas com os representantes das equipes de futebol que estão participando do 9º Campeonato de Futebol Amador de Perdões. É uma iniciativa do VOZ e nessa edição conversamos com representantes do Colorado Esporte Clube.
A entrevista foi realizada na residência do Sr.Sebastião Soares de Oliveira Filho, mais conhecido como Sr. Tião Soarinho e ao seu lado, de seu filho Valdemir Soares de Oliveira (Demir), jogador na equipe do Colorado, o técnico Luciano dos Santos e Romildo Itamar dos Santos, conhecido como Ne-Peixe.
Há cerca de 15 anos o Sr.Tião assumiu a direção desse time.
Com muita satisfação ele faz questão de apresentar à nossa reportagem o Estatuto, a Ata, os papéis, a documentação do Colorado que foi declarado como Utilidade Pública Municipal, através da Lei Municipal nº 2204 de 22 de outubro de 2002 e também de Utilidade Pública Estadual, através da Lei nº 15798 de 30 de novembro de 2005.
No entanto, durante todo esses anos nunca receberam nenhuma subvenção do esporte.
Sr.Tião que sempre traz um sorriso no rosto, tem uma qualidade inigualável – gratidão. Sempre agradece, agradece…perdendo ou ganhando, mesmo diante das dificuldades financeiras. Mas faz questão de citar Wagão, Anderson e Nino (este que sempre colaborou com o time quando é solicitado).
A entrevista transcorreu com muita alegria, pois eles conseguem rir até quando não ganham o jogo, mas fazem questão de demonstrar todo o amor e confiança no esporte.


Jornal VOZ: O senhor nos disse que o Colorado foi passado para o senhor há cerca de 15 anos. Antes estava no comando de quem?
Sr.Tião: Antes estava com o Ronaldinho, filho do Sr.Lázaro. Depois me passaram o Estatuto, o uniforme.
Sempre participamos de campeonatos, torneios, amistosos.
Jornal VOZ: Por que o nome Colorado ou quem colocou esse nome?
Ne/Peixe: O nome quem deu, na fundação do time, foi o Seu Lázaro.
Jornal VOZ: Depois que veio para o Sr.Tião, foi declarado como Utilidade Pública e em um dos papéis verificamos uma subvenção. Vocês receberam ou recebem algum valor?
Sr.Tião: Desde que passou para mim, nunca recebemos nenhum centavo.
Jornal VOZ: E como vocês mantém a equipe?
Sr.Tião: Os jogadores ajudam muito. Tem uns patrocinadores que ajudam um pouco.
Jornal VOZ: O time é formado de jogadores de Perdões?
Valdemir: Sim, todos de Perdões, dois da Comunidade do Retiro dos Pimenta e os outros aqui do Bairro Placedinos.
Jornal VOZ: Durante esse tempo vocês passaram muitas dificuldades?
Sr.Tião: Tem as dificuldades, mas o time não para não.
A gente vai para os amistosos, a gente vai para Nepomuceno, Cana Verde, Lavras e outras cidades.
Tem também o campo do Silas. O nosso time foi gerado aqui no bairro Placedinos e representa com jogadores daqui. O Colorado é legítimo daqui mesmo.
Jornal VOZ: Você acha que o esporte é valorizado como deveria ser?
Valdemir: É valorizado e tem apoio moral, mas não tem apoio financeiro, como no nosso caso.
Você veja, que tem aqui no papel, mas nunca recebemos nada!
Os jogadores colaboram com uma taxa, mas pedimos ajuda dos três que já citamos e também pagamos a minha mãe que lava os uniformes.
Jornal VOZ: O que o Colorado representa para o senhor?
Sr.Tião: Representa uma coisa muito boa.
Meu divertimento é o esporte. Mexo com futebol, mexo com malha (temos um campinho na Turma há mais de 30 anos, já fui campeão lá com Marquinho Balduíno) – paixão nossa.
Tenho muita satisfação de fazer o agradecimento pelo apoio da torcida porque sei o valor que eles dão ao time. Tenho espírito esportista.
O time no ano passado, foi muito bem, esse ano ‘lá vai’ bem, porém não está como no ano passado.
Agradeço toda diretoria do Independente, porque é muito importante ter as famílias nas arquibancadas vendo o jogo.
Jornal VOZ: Vocês treinam para os jogos?
Valdemir: Não! Tem o campo do Silas que acho que a Prefeitura paga.
Acompanho o pai desde pequeno, ele elogia muito o Independente, mas eu não concordo com a diferença de tratamento entre as equipes. Eles acham que o nosso time é pequeno e as diferenças, não aceito.
Já pensei em desanimar, mas não desanimo ‘nem ver’, fico ao lado do meu pai.
Gosto muito de esporte, já iniciei até uma escolinha de futebol, mas não deu certo, porque eu não tinha ajuda, não tinha patrocínio e também fiquei com medo em atravessar o asfalto com as crianças lá no campo do Silas, com mais de 20 meninos.
Jornal VOZ: Vocês nunca tiveram um campo aqui?
Ne/Peixe: Nós tínhamos um campo, onde atualmente é a Cerâmica.
Antes foi feito um campo para o time do Colorado, inclusive quem se dispôs a fazer esse campo foi o João Júlio e fez. Jogamos durante cerca de 6 anos. Infelizmente esse campo acabou por ignorância de política…
Jornal VOZ: Você está há muito tempo no Colorado, Luciano?
Luciano: Fui nascido e criado no Colorado, joguei muita bola. Parei depois que tive os dois meninos e tomei conta deles, fui obrigado a parar de jogar bola, mas sempre disputei os campeonatos com o time do Colorado.
Cheguei a jogar no Dominó e disputar o Sul Mineiro com eles, mas gosto muito do Sr.Tião, admiro muito ele pelo seu jeito de ser.
Na época do meu irmão aqui (Ne/Peixe) comecei com eles, era novo, mas a primeira oportunidade quem deu para jogar bola foi o Sr.Tião. Eu era novinho, não tinha jeito nem de calçar a chuteira- pé pequeno.
Jornal VOZ: Quando vocês não ganham uma partida como voltam para a casa?
Sr.Tião: A mesma coisa. Vou lá, abraço o meu adversário, dou os parabéns para toda a equipe deles. Esporte é isso. A gente não joga só para ganhar e dou o mesmo valor para todos os meus jogadores e ajudantes.
Jornal VOZ: Tem algum troféu mais significativo para vocês?
Sr.Tião: Todos tem o mesmo valor.
Ne/Peixe: Eu lembro de dois, Seu Tião. Um que ganhamos no campo da Popular. Eu trabalhava em São Paulo, aí quando cheguei para buscar mais gente para trabalhar lá, o Sr.Tião me falou que iam disputar um torneio no domingo. Aí Seu Tião me falou: ”Você quer ir?”
Fui eu, o Israel. A gente jogou no 2º classificado e ele me falou para descansar para jogar no primeiro também.
Ficamos lá o dia inteiro. Aí ganhamos o troféu do segundo e o troféu do primeiro. Para nós foi uma beleza – o problema foi na hora de vir embora no ônibus, deu câimbra.
O Sr.Tião, a gente admira no esporte porque o Colorado foi passado para ele e eu como ex-jogador do Colorado desde sua fundação, sempre gostei do time, só parei de correr atrás de bola porque tomei uma facada há alguns anos atrás e não pude correr atrás de bola, depois vem a idade, aí já não dá mais para correr como antes.
O Seu Tião pode perder de 10 que ele não perde a esportiva.
Lembro que um dia meu irmão falou que eles foram jogar em Nepomuceno, não esqueço disso, o Romilson falou ”Seu Tião, vou sair, porque não estou aguentando”… e Seu Tião: ”Não, fica aí que ainda dá para empatar” – o time estava perdendo de 8 x 0 – o Seu Tião rindo na beira do campo e meu irmão falava ” não tem meio de empatar não, a gente vai levar mais”. No fim, tudo foi festa, mas o nosso time perdeu de 14 x 0.
Isso é uma pessoa que ama o esporte. Eu gosto muito de esporte e se você, pensando bem, o esporte não é para brigar, esporte é você curtir.
Perder? Um tem que perder. Dois não irão ganhar.
Quando se entra num campeonato, todo mundo quer ganhar, mas somente um será o vencedor com a taça.
A pessoa no esporte tem que saber aceitar, ter aquela humildade que o Seu Tião tem – aceitação. Porque mesmo perdendo o sorriso dele não cai.
Luciano: Relembrando aqui – nós fomos em Ribeirão Vermelho para jogar, nós tomamos de 10 x 1. Quando faltava 2 minutos para acabar, deu pênalti para nós.
Aí o Demir foi pegar a bola para bater, o Seu Tião gritou para o filho ”se você errar, não joga mais não.”
Valdemir/Demir: era um jogo com o Operário, tinha o jogador Betinho, que agora apita como árbitro nos jogos.
Luciano: Ele chutava tão forte na bola. Ele jogava no Operário e no time do Independente. Era muito bom!
Valdemir/Demir: A gente andava muito pelas roças por Nepomuceno, andava de caminhão, enchia de poeira.
Jornal VOZ: E quando vai iniciar uma briga, qual a posição de vocês?
Luciano: A primeira opção que temos é de separar qualquer briga. Esfriar a cabeça. Ano passado Michel e um rapaz discutindo e quase saindo a briga, a gente apartou.
*****
A cada entrevista conhecemos e aprendemos um pouco mais.
A alegria predominante no Sr.Tião, Valdemir, Luciano e Peixe que conseguem rir, mesmo diante das derrotas, mas afirmam convictos que amam o esporte, amam o Colorado Esporte Clube.

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