O amor requer disposição

24 de abril de 2017 11:00 2010

Todos os dias, quando retorno do trabalho, por volta das 23 horas, vejo um casal de adolescentes namorando no passeio em frente à casa da guria. Já fui seu vizinho, a conheço desde que erapAULO muito novinha. Faça frio, faça chuva, lá está o casal apaixonado aos beijos ardentes. É um festival de amassos.
Após um dia exaustivo, no conforto do meu carro, louco para chegar em casa e tomar um banho, penso: “Tem que tá muito apaixonado pra namorar num frio desses”. Chego em casa, jogo a mochila em qualquer canto, faço minha refeição solitário, quando bate a realidade – daria tudo para que fosse eu…
Sinto muita saudade dos amores adolescentes. Muita gente sente. Quando converso com pessoas que já estão em um relacionamento duradouro, ouço um lamento com frequência: “Tenho medo de nunca mais me sentir apaixonado”.
Quando se é jovem, o carinho é a principal ligação do relacionamento; quando se é adulto, é o cuidado. Cuidado e carinho são primos, mas de segundo grau.
Das paixões juvenis, guardamos os beijos demorados. Longos momentos de troca de carinho. Pensamos em como seria bom ter mais liberdade, em poder viver aquela paixão de forma intensa, sempre e cada vez mais. Sentimos saudades do que ainda não vivemos.
Dos amores adultos, sentimos falta da companhia nos momentos mais difíceis. Do apoio na execução dos projetos. Do suporte para sobreviver aos compromissos profissionais. O cuidado quando adoecemos. Uma refeição que alegra o dia. Dividimos o peso da vida.
Os jovens pouco podem oferecer uns aos outros, compreendem pouco, mas se entregam muito. São intensos. Sua principal qualidade é se permitirem. Quando aquela onda de sentimentos os invade, apenas surfam e aproveitam.
Nós, adultos, medimos cada passo, algumas vezes analisamos os benefícios do relacionamento: como ele irá impactar na minha rotina de trabalho, nos meus planos de futuro…
Quando foi a última vez que seu cônjuge te beijou apaixonadamente? Uma troca demorada de olhares, um toque suave e firme no rosto, corações palpitando e um beijo invadindo a alma. Sem motivo, sem data comemorativa, pelo simples prazer físico-químico do beijo. Quando foi?
Sou muito criticado por isso. Em meus relacionamentos, cobro a manutenção da paixão. O fogo tem que permanecer ardendo. “Seu problema é achar que relacionamento tem que ter demonstrações todos os dias, sexo todo dia, carinho todo dia” – não acho que seja problema.
O amor requer disposição. Qualquer tipo de amor. Se você não é capaz de abrir mão do seu mundo, não tenha filhos, não adote um animal, não faça amigos verdadeiros e, muito menos, entre num relacionamento afetivo.
Tenho síndrome de Peter Pan. Fujo da velhice, principalmente a de espírito. Os amores adolescentes me encantam, os amores adultos me são necessários. Não pode haver meio termo, não se pode amar pela metade, no amor somos extremófilos. Precisamos chegar ao limite.
Você está disposto a amar?
Este texto estará no livro “Hemisférios – dos amores racionais às razões do amor” que será lançado em breve, pela editora Multifoco. https://www.facebook.com/paulo.c.curio


 

*Paulo Curió: nascido em Porto Alegre, Paulo Curió, mudou-se para Minas Gerais no início da adolescência. Foi nas montanhas de Minas, que o guri, amante das manifestações artísticas populares, como a capoeira e a dança, tornou-se Engenheiro Mecânico, professor nos cursos de Engenharia Civil e Produção, jamais deixando de lado sua paixão pela arte.
O professor de exatas também é professor de dança, músico, cronista e pai de dois filhos.

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