Por uma educação inclusiva e libertadora

8 de abril de 2019 11:46 1012

Meus pais cursaram até a 4º série do ensino fundamental. Naquela época, era comum que cidadãos da zona rural como eles não concluíssem o estudo. Os que conseguiram ser alfabetizados tinham sorte e sabiam disso, por isso não havia questionamento.
Décadas se passaram e, morando em um grande centro urbano, foi a minha vez de cumprir os anos regulares na escola. Embora o acesso tenha sido muitas vezes mais fácil, comecei a entender, naquela época, que a educação não era oferecida de forma igual a todos. A estrutura de uma escola pública, a qualidade do ensino e a própria remuneração oferecida aos professores estavam muito aquém dos recursos disponibilizados em escolas particulares.
Quando chegou a época de ingressar no ensino superior senti na prática as dificuldades que toda essa falta de suporte na educação pública causa na formação das pessoas que, como eu, são oriundas da classe com menor poder aquisitivo.
A vida deu uma reviravolta e há dois anos resido na cidade onde meus pais cresceram. Para o meu espanto, muitas pessoas continuavam a passar a vida toda ser saber ler nem escrever. A ideia de iniciar um projeto que mudasse essa realidade surgiu dessa percepção que carrego há muito tempo: a falta de acesso a uma educação de qualidade é a raiz das diferenças sociais e também por isso a fonte do saber não pode ser detida por uma classe dominante.
Assim, no final de 2017, iniciamos as aulas de alfabetização de adultos para atender todos os maiores de 30 anos que tivessem interesse em aprender a ler e escrever, mas não só. O intuito era também fazer com que os alunos se socializassem e discutissem questões sobre a sociedade a qual estão inseridos e que, muitas vezes, eles não compreendiam. Por fazerem parte de uma parcela da população que é deixada sempre a margem pelo sistema público, nunca haviam discutido muitas das questões básicas da sociedade.
O óbvio não existe, aprendi. Em determinada aula, quando discutíamos o que é cidadania, uma das alunas disse: “Então, quando eu for ao posto de saúde e um médico me maltratar, posso dizer a ele que não está me fazendo favor? Que é meu direito?”
Sim, você pode.
E assim percorremos este caminho de aprendizagem e troca mútua por um ano e meio. No último sábado (30), aconteceu à formatura simbólica da primeira turma do projeto. Mais uma vez, tive a certeza do quanto à educação pode ser transformadora e , mais uma vez, entendi que precisamos, cada um de nós, fazer o que está dentro de nossas possibilidades para construirmos uma sociedade mais justa e inclusiva. Pois, nas palavras do mais importante educador deste país, Paulo Freire, “ninguém é tão grande que não possa aprender e nem tão pequeno que não possa ensinar”.
Agradecimentos especiais: Prefeito de Cana Verde Eduardo Cardoso Garcia; Secretario de Educação de Cana Verde Agnaldo Montes; Simone Silva; Alessandro Gonzaga, Rosana Santos, Regina Bertoni, Amaury Jr. Leite, Hebinha Nunes, Orozimbo de Souza, Rafael Henrique, Graicon Siqueira e Gabriel Barbosa.
As formandas: Andreia, Ana, Anita, Geni e Sirlene, minha total admiração e carinho.


por Renata Souza
Foto: Jornal VOZ


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