Sebastião Ferreira da Silva, carinhosamente conhecido como Tião Café, nasceu na Fazenda Santa Clara – propriedade de Hélio Carvalho Garcia no dia 13 de janeiro de 1947. Nessa fazenda viveu até os 17 anos.
Filho de Sebastião Francisco da Silva e Ursina Ferreira; irmão do José Osvaldo, Eduardo, Lúcia, Arnaldo e Hélio (in memorian); casado com Nilza Vilela, pai do Leandro; avô de coração do Kauã, Kaique, Antonio, Raissa, Pedro, Luiza e Tainá.
A entrevista gravada na cozinha de sua casa, onde mora desde 1963, transcorreu, na realidade, num bate papo descontraído em que Tião Café na sua analogia cita frases de amigos com nome e sobrenome.
Após a entrevista, sua esposa Nilza serviu um bolo saído direto do forno.
Jornal VOZ: Quando fundamos o jornal, ouvíamos sempre falar sobre Tião Café. Mas fomos nos conhecer oficialmente através do Zé Frangueiro, pois em setembro de 2006 o jornal mudou para a Rua Minas Gerais e tempos depois o saudoso Zé Frangueiro que morava no final dessa rua, foi até a redação do VOZ e fez a observação que faltava uma Coluna de Esporte no jornal e sabia quem era a pessoa ideal para comentar sobre isso: Tião Café.
Além de comentarista, técnico de futebol, o senhor foi funcionário público do estado.
Onde o senhor trabalhou?
Tião Café: Trabalhei na Escola Padre Pedro Machado, que era estadual. Iniciei em 1964 e fui efetivado em 1965. Trabalhei 35 anos na Escola Padre Pedro Machado. Depois houve uma mudança – A escola municipalizou e os funcionários que ali estavam foram remanejados para outras repartições públicas. Eu fui para a Escola Estadual João Melo Gomide e encerrei a carreira lá.
Jornal VOZ: Até os 17 anos o senhor trabalhou na Fazenda Santa Clara. O que fazia lá?
Tião Café: Trabalhei em quase todos os serviços da roça. Tenho um orgulho muito grande e um certo conhecimento de várias profissões.
Jornal VOZ: Como o esporte passou a fazer parte da sua vida?
Tião Café: Como diz o meu amigo Juvenal de Castro Teixeira, grande amigo em que me inspirei e o que sei, procurei aprender com ele. O Juvenal me disse uma frase uma vez e coloco pra mim, também: ‘‘eu nunca fui jogador de bola, fui chutador de bola’’, mas depois fui entrando no meio do pessoal, gostando do esporte.
Comecei com 17 anos e na Escola Padre Pedro Machado comecei a treinar os meninos da escola.
Eles tinham muito carinho por mim, graças a Deus e assim viram que eu tinha dom para o esporte e cheguei ao Independente Esporte Clube de Perdões.
No Independente, praticamente fiz de tudo um pouco – fui juiz de futebol, fui bandeirinha e outros serviços.
Depois me indicaram pois na época o Juvenal estava muito atarefado e ia deixar o Independente, assim o então presidente, Baldir Alves Rodrigues, me convocou para uma reunião, e lá me convidou para ser treinador do Independente.
Eu tremia na base, mas deu tudo certo.
Jornal VOZ: Além do esporte, o senhor é muito solicitado para a limpeza de piscinas.
Tião Café: Graças a Deus, tenho uma clientela muito boa. E cada cliente vai me indicando para outro.
Comecei a limpar piscina em 1975 e quem me deu a primeira oportunidade e me deu a explicação como que mexia com piscina – como usar os produtos, ligar as máquinas foi o amigo e engenheiro civil, Ronaldo Pereira Malfitano. A partir daí, não parei mais. E a gente procurava fazer da melhor maneira possível, com todo o respeito aos demais que exercem essa profissão.
Jornal VOZ: Podemos perceber que alguns amigos fazem algumas brincadeiras bem humoradas sobre frases que o senhor já pronunciou ou situações em que o senhor já esteve, entre eles, o Delúbio, professor Zezinho… É só uma brincadeira ou o senhor realmente se expressou assim? (nesse momento Tião Café fica com a fisionomia mais alegre).
Tião Café: Dou essa liberdade pra eles, brincam comigo e a gente leva tudo na brincadeira.
Se eu não desse uma abertura para eles, poderia interpretar por outros caminhos, mas a gente se sente bem.
O Delúbio onde ele está, pode saber que ele está falando de mim. É como diz uma frase do saudoso Tancredo Neves – ‘Falem bem, ou falem mal, mas falem de mim’, tem o Zezinho, Rodrigo Fidélis e outros amigos, que se eu for enumerar todos eles fico falando até amanhã.
Jornal VOZ: O senhor é comentarista esportivo na Rádio Vertsul.
Tião Café: Sim, mas depois que veio essa pandemia, estamos voltando aos poucos.
O pessoal está sempre perguntando, já acostumaram com a gente, com o nosso programa. É muito gratificante quando aceitam a gente do jeito que a gente é. Costumo dizer uma frase do saudoso Hélio Garcia – ”Eu preciso de todos!”.
Jornal VOZ: O senhor é uma pessoa que sabe entrar e sair de qualquer lugar com respeito, bom humor e humildade. Como faz quando está com um problema para ser resolvido?
Tião Café: A maioria das pessoas tem algum problema, aquele que fala que não tem, está mentindo.
Quando saio na rua, deixo os problemas para resolver depois e nada justifica eu sair na rua – e vou relembrar aqui uma frase do Rodrigo Fidélis ‘‘Ficar de cara amarrada e ser grosseiro com as pessoas, nada justifica.’’
E aprendi com meu pai e minha mãe, apesar do pouco grau de instrução que eu tenho, procuro ser amigo de todos. Se alguém não gosta de mim, ai é outro departamento.
Jornal VOZ: Tião Café, além do seu dom para o esporte, constatamos e sentimos que o senhor tem uma filosofia de vida muito bela, e mesmo não tendo todo o conhecimento dos bancos da faculdade, como o senhor ressaltou, tem a sabedoria da vida e leva isso para o coração de tanta gente.
O senhor faz analogias simples de compreender, cita frases de amigo e pessoas públicas. Como o senhor vê tudo isso?
Tião Café: Ao longo do tempo fui procurando separar o joio do trigo. A gente procura errar o menos possível. Errar, todos nós erramos, somos passivos de erros e acertos.
Com os meus atletas quando estive no independente, quando alguém vinha falar nos meus ouvidos que um jogador ‘aprontou’ e perguntava se ‘‘jogaria no outro dia, pois estava num baile, chegou em casa de madrugada, ele não tem condições de jogar’’ alguém fazia uma observação. Então eu chamava esse jogador à parte do vestiário de futebol para não constranger e humilhar diante dos outros colegas, porque ai eu iria atrapalhar o plantel, o time que poderia entrar em campo nervoso, se eu humilhasse um colega deles. Conversava com esse jogador e expunha a situação e verificava se estava ou não em condições de jogar. O jogador entrava em campo com mais responsabilidade.
E foi assim que fiquei 10 anos consecutivos no independente – de 1991 a 2001. Acredito que não fiz nenhum inimigo e todos me respeitam até hoje. E com jeito a gente até consegue ‘‘tirar leite da pedra’’. A ferro e fogo você não vai a lugar nenhum.
Respeitar a pessoa do jeito que ela é, mas colocar o que deve ser feito no campo, na vida.
Isso é muito bom, gratificante encontrar adultos que já foram treinador por mim.
Jornal VOZ: Sabemos que o senhor é um atleticano nato, mas como faz para comentar quando o seu time não foi tão bem em campo e o adversário sim?
Tião Café: Aí tenho que ter jogo de cintura (que pergunta!), porque na hora que termina a partida a gente está nervoso, chateado e é o direito do outro time fazer uma gozação.
Aí tenho que respirar fundo, contar até 10 porque na semana tenho que escrever minha matéria, na rua vão mexer comigo e vou ter discernimento porque não adianta eu discutir. Tenho jogo de cintura e não entro da outra sintonia. Não posso misturar as coisas, aliás no meu ramo de trabalho – limpar piscinas, cada um tem o seu time preferido.
Tenho que passar isso para esses meninos que, as vezes são seguidores da gente. Como você disse, tem que ter sabedoria diante da vida.
Jornal VOZ: Como o senhor consegue conciliar, ‘‘dar conta’’ de tantas atividades?
Tião Café: Então, até para escrever tem dia que estou mais inspirado, tem dia que desenvolvo menos.
O Antônio Carlos, filho do Zé Frangueiro, gosto demais dele. Ele é fora de série. Ele é assinante do Jornal VOZ e falou assim para mim: ‘‘Bom é que você resume as coisas em poucas palavras e a pessoa entende onde você quer chegar’’.
Outro assinante do Jornal VOZ, o Zezinho contador me falou que ‘‘pego o jornal e leio todas as matérias, mas primeiro vou olhar o que o Tião Café escreveu, aí se você não escreveu, eu falo, ei ‘tá preguiçoso’ muito bom!’’
Jornal VOZ: O senhor anda pela cidade de bicicleta e também quanto à sua saúde como cuida?
Tião Café: Faço a minha parte, sem extravagâncias. Estou com 73 anos, não tomo nenhum remédio, cuido da alimentação.
Leio muito sobre o esporte, assisto TV, ouço a rádio Universitária de Lavras – programa de esporte de segunda a Sábado – sobre todos campeonatos, sobre série A, B, C do Campeonato Brasileiro.
Tenho as plantações no quintal, horta e isso trago de meu pai que sempre estava plantando e me dizia: ‘‘filho sempre plante, tirava uma muda, porque assim sempre semeando e colhendo’’, e essas coisas ficaram gravadas em minha memória.
Meu pai tinha prazer em colher e distribuir para os vizinhos.
Mensagem final: No meu ponto de vista, o esporte une os povos, qualquer que seja a modalidade, a gente tem que respeitar. Praticar esporte é vida.
É importante respeitar o adversário, nunca tirar o mérito dele. Se a gente for derrotado dentro das 4 linhas numa partida de futebol – fazer uma reflexão, pensar onde foi que erramos, o que precisamos consertar, pois a partir do momento que a gente tira o mérito do adversário, não estamos valorizando a nossa vitória.
Que os jovens tenham comprometimento, isso é muito importante, pois todos têm possibilidade de chegar em algum lugar. Respeitando seu treinador e ter muito fé em Deus e seguir os caminhos corretos.
Agradeço você Regina e sua família pelo carinho e oportunidade no jornal. Chegar até aqui não foi fácil, mas todos podem contar comigo.