Um dedo de prosa…

31 de agosto de 2020 13:33 1173

Nos idos mil novecentos e alguns anos, quando o professor tinha “status” elevado, o Sr. João Procópio foi convidado a dar aulas na Rede Pública da cidade de Bariri, interior de São Paulo.
Bariri é um nome de origem tupi-guarani, e quer dizer “águas barulhentas”. As águas do rio Tietê, que representam vida e prosperidade, inspiraram o lema da cidade: “Bariri terram paulistam uberat”, ou seja, “Bariri fértil terra paulista”. E por ser fecunda, e por ter vida em abundância, o Sr. João Procópio resolveu ali se fixar, constituir família na cidade, criar seus filhos com o seu digno trabalho de professor.
A principal herança do Sr. João Procópio, como educador, foi a valorização do conhecimento. Um dos seus filhos, Joaquim Antônio Procópio, nascido em Santana do Parnaíba (SP), mas criado em Bariri, seguiu a missão do seu pai, de transmitir conhecimento às pessoas, só que de uma forma diferente: através da viola. Se Bariri significa “águas barulhentas”, Quinzinho Procópio se ocupou em espalhar esse barulho por toda a região, cantando as histórias do povo, através dos “causos” e das modas de viola, levando alegria a todos os recantos…

A sabedoria popular tem um ditado que diz: “filho de peixe, peixinho é”. E assim aconteceu. Joaquim, violeiro famoso e respeitado, não demorou a encontrar sua “Rosa”, uma flor, por quem se apaixonou. O fruto dessa união, Bento, menino abençoado com um talento especial de Deus: a música. Conhecido como “Procópio”, Bento também seguiu a tarefa de seu avô, e continuou levando conhecimento, música e arte ao povo.
Bariri, como a maioria das cidades do interior de São Paulo, recebeu muitos imigrantes italianos e espanhóis, que vieram trabalhar nas lavouras de café, principal fonte de renda para os fazendeiros da época. Descendente de italianos, José Fontana, e descendente de espanhóis, Remédios Munhoz, se uniram, gerando uma filha, Elvira.

A dança, as festas e a culinária trazidas pelos espanhóis e italianos, aproximaram Elvira e Bento. A arte, a cultura, a tradição, que corriam no sangue deles, foi passada para seu filho, Israel, conhecido como Léo Cafundó.
Nascido na cidade grande, em São Paulo, Léo Cafundó escolheu a Cidade da Amizade, Perdões, em Minas Gerais, para viver com a herança de seu avô: coração e alma de caipira.

Inspirado por seu pai, Bento Procópio, logo Léo enveredou pelo caminho da música. Mas não é qualquer música. É a música caipira, música dita raiz, que alimenta a alma sertaneja, moda de viola que enaltece o matuto, que canta as alegrias da natureza e a pureza do mato.
Herdamos muitas coisas dos nossos antepassados. Léo Cafundó herdou de seu bisavô a importante missão de transmitir conhecimentos ao próximo, com suas aulas de violão. Por suas mãos e pelo braço de sua viola, muitos alunos já passaram… Alunos talentosos, alunos brilhantes, mas, principalmente, os alunos especiais, aos quais Léo se dedica com afinco e amor: os meninos da APAE de Perdões. É tanto amor e dedicação que esses meninos-músicos especiais já participaram até do XI Festival Estadual Nossa Arte, arrebatando um segundo lugar com sabor de medalha de ouro!
De seu avô, Léo herdou o gosto pela moda de viola e o prazer de se apresentar e levar a cultura caipira para o povo. Com participação em diversos programas de TV que enaltecem a cultura popular, Léo Cafundó e seu parceiro musical Marquinho, acompanhados da Orquestra de Viola e Violão do Cafundó cantam autores consagrados e também composições próprias, como a homenagem ao Papa Francisco, intitulada “Nas mãos de Deus”. Para o Papa Francisco, Léo canta: “…eu admiro a sua fé e acredito de verdade: fostes o Ungido pra pregar a caridade!”.

De seu pai, vem toda a inspiração de vida: vida simples, jeito de caipira, paixão pela viola, temor e respeito a Deus, amor ao próximo. Toda essa inspiração se transforma em letra, em música, às vezes sozinho, às vezes em parcerias valiosas, cumplicidade de artistas que respeitam e respiram a música caipira.
Israel, que significa “homem que vê Deus”, canta ainda para o Papa: “Eu não consigo enxergar as suas mãos no Santo Altar na hora da Consagração. Vejo outras mãos coladas nesses punhos seus, o Vinho e o Pão seguros pelas mãos de Deus”.
E Léo Cafundó segue seu caminho, devagar, “Tocando em Frente”…
Se ele segue num “Trem do Pantanal” ou em uma “Chalana”, assim que “Amanhece, pega a viola”, porque ele sabe que o povo gosta de ouvi-lo cantar!
Léo sabe que sua “Romaria” é repleta de “Amizade Sincera”!
E, mesmo quando a “Vida Marvada” traz alguma mágoa, logo ele pega a viola que fala alto em seu peito humano…
E “Léo Cafundó, a viola e Deus”, seguem na “Comitiva Esperança”, sabendo que é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir!

*Sobre Silvana Aparecida Ceregato de Oliveira:
Nasceu em Rio Claro (SP), em 25/09/1971 (e aí vai outra coincidência: ela viu no face do Léo Cafundó que fazem aniversário no mesmo dia!).
É descendente de italianos de todos os lados da família: vieram pelo mar, das várias províncias da Itália, de Veneza, da Calábria… Os Demarchi, Caparrotti, Bianchini, Tomazela, Jardim, Milani, Ceregato, para “lavorare” as terras brasileiras.
Formada em Matemática, mestre em Estatística e doutora em Gestão Ambiental, dá aulas no Ensino Superior há 21 anos.
É casada com o Paulinho da Dona Rosinha (Paulo de Oliveira) há 16 anos.

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