Trecho que liga Cana Verde a Perdões é o mais crítico
No último dia 24, Cidinha Mendes, de 43 anos, e sua mãe D. Irani, de 63, trafegavam pela BR 354, destino a Campo Belo, cidade onde residiam, quando o veículo em que estavam bateu de frente com um caminhão. Ambas morreram no local.
Menos de uma semana antes de mãe e filha perderam a vida, a jovem Patrícia de Souza Ribeiro, de 19 anos, morreu quando o veículo em que estava bateu contra uma estrutura de proteção metálica também na BR 354, entre Campo Belo e Candeias.
Astolfo Valim, 54 anos, comerciante de Varginha, dirigia uma Van, quando bateu de frente com uma carreta, também na BR 354 entre Cana Verde e Campo Belo. Lico, como era conhecido, morreu na hora. O acidente aconteceu no dia 19 de outubro.
As quatro vidas perdidas apenas no último mês entraram para a triste estatística de acidentes com mortes na BR 354, cujo o trecho crítico liga Cana Verde a Campo Belo. De acordo com a assessoria de imprensa da Policia Militar de MG, foram 16 ocorrências, com 22 vítimas, entre leves e fatais, apenas no ano de 2020, em um percurso que abrange menos de 20 km.
Para Jonatas A. C. dos Santos, de 34 anos, que é motorista carreteiro e trafega na BR de duas a três vezes por semana, um dos grandes problemas da 354 é o fato da pista ser muito lisa, escorregadia e conter valas em alguns trechos, o que faz com que os veículos percam a direção.
“Nos dias de chuva, a situação fica ainda mais complicada, porque os veículos ficam sem aderência”, completa.
O motorista, que reside em Cana Verde, diz também que muitas vezes percorre grandes distâncias e não sente tanto receio quanto neste trecho da BR 354. “ Trafegamos por 300 km, entre Perdões e São Paulo, e não sentimos tanto medo quanto o de percorrer este trecho de 100 km que liga Perdões a Arcos, pois ali ocorrem muitos acidentes”, diz.
Arildo Hipólito da Silva, caminhoneiro há 30 anos e que atualmente faz a rota Arcos/São Paulo, passando pela BR 354 de três a quatro vezes por semana, também aponta problemas na via. “Acredito que a situação esteja se agravando neste trecho que liga Cana Verde a Campo Belo devido à falta de manutenção, ao excesso de caminhões e as muitas curvas”, explica.
Para ele, nos dias de chuva, além da falta de prudência dos motoristas, o fato da rodovia ser muito escorregadia, com piso liso, agravam a situação.
Assim como Jonatas, Arildo relata seu receio em trafegar pela BR 354 e conta optar por horários de menor movimento, para se prevenir. “Nunca tive tanto medo quanto agora! A situação está muito delicada. Estou preferindo viajar entre meia noite e seis da manhã”.
Uma solução apontada tanto por Jonatas quanto por Arildo seria a implantação de ranhuras na via, o que possibilitaria o escoar da água em dias de chuva e também aumentaria a aderência dos pneus no asfalto.
“O ideal seria a duplicação, mas sabemos que isso é um sonho. Portanto, acredito que a manutenção, as ranhuras e uma terceira faixa já amenizariam bastante o risco de acidentes”, finaliza Arildo.
Não são apenas os motoristas profissionais que sentem medo de trafegar pela 354. Comerciantes da região também estão assustados com a incidência de acidentes, sobretudo em dias de chuva, no trecho que liga Cana Verde a Campo Belo.
Antônio A. Neto, de 58 anos, reside em Campo Belo, onde também é proprietário de uma gráfica. Por conta do trabalho, muitas vezes precisa ir a cidades vizinhas e conta que sente muito receio de trafegar pela BR 354.
“De Campo Belo a Cana Verde é muito perigoso, o asfalto é mais fino e muitos motoristas trafegam com imprudência. Tenho muito medo, inclusive, já decidi que em dias de chuva, mesmo precisando cumprir algum compromisso, não vou mais usar esta via”, conta.
Nico, como é conhecido, já perdeu muitos amigos em acidentes na BR 354. “Conhecia muito a Dona Irani e a Cidinha, também o Josafá, que foi meu vizinho por vários anos, e muitos outros que perderam a vida neste trecho”, diz.
Citado por Nico, Josafá Alvarenga, também comerciante em Campo Belo, morreu após o carro que dirigia colidir com uma carreta na BR 354, no fim de setembro deste ano.
Para o gráfico, uma solução seria sinalizar a pista com placas indicando trechos perigosos e alertando o motorista sobre a necessidade de redobrar a atenção.
Devido ao alto número de acidentes, a população das cidades de Campo Belo e Cana Verde vem se mobilizando para debater soluções e reivindicar junto as autoridades melhorias para a via. Página no Facebook e grupo de Whatsapp foram criados com este intuito, além de alguns protestos que já aconteceram na última semana em Campo Belo.
Fato é que a situação tem se agravado e a maior parte da população demonstra medo em utilizar a via, principalmente em dias de chuva. Outros protestos devem ocorrer na região com a intenção, sobretudo, de mobilizar deputados mineiros e outras autoridades locais para que se unam e interfiram junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pela manutenção da via.
por Renata Souza
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