Casa da Memória – um presente para todos nós

31 de maio de 2021 15:54 1233

A Casa da Memória está localizada no Retiro dos Pimenta com a exposição de objetos antigos e fotos

A entrevista dessa edição tem gosto e sabor de boas lembranças, conhecimento e sabedoria.
A Casa da Memória está localizada na Comunidade Retiro dos Pimenta – Perdões/MG, sob a direção de Norvina Mendes e Vera Lúcia Mendes.
Norvina, carinhosamente conhecida por Nininha, e Vera, são irmãs.
Elas são filhas de Pedro Geraldo Mendes e Maria Mecia Mendes; irmãs da Nely, Geraldo, Pedro (in memorian) e José (in memorian).
A entrevista foi gravada na confortável sala da casa em que moram ao lado da Casa da Memória.
Duas mulheres cultas e que transmitem além do conhecimento uma energia muito positiva.
Paranaenses, filhas de mineiros, idealizaram e criaram um acervo valioso exposto na Casa da Memória.
Após a entrevista, fomos visitar a Casa da Memória. Eu e a Adriana ficamos encantadas com objetos que têm histórias consagradas no tempo.
Dona Norvina destaca que casa foi construída por João Geraldo Mendes, pai do Juquinha do Val. Depois venderam a casa já com os filhos criados, casados e foi repassando para outras pessoas, até chegar na família novamente e ser a Casa da Memória.
E antes de retornarmos à redação do Jornal, Vera Lúcia nos serviu um delicioso café com pão de queijo e bolo na cozinha com gosto de amizade e união. Vera Lúcia – uma mulher que venceu desafios e pode falar com propriedade e alegria o que é superação.

Panela de comida dos escravos na cozinha da fazenda.
Na senzala todos comiam na mesma panela, explica Dona Norvina.

Jornal VOZ: Norvina e Vera Lúcia – duas mulheres atuantes na cultura que com estilo criaram esse espaço que nos leva a uma viagem no tempo.
Fale-nos um pouco sobre essa trajetória e como surgiu a ideia da Casa da Memória?

Norvina: Sou paranaense, filha de mineiros (meu pai nasceu aqui perto do Retiro e minha mãe nasceu no Hipólitos). Meus pais foram para o Paraná recém casados, com os irmãos dele. Eu nasci lá e eles voltaram para Minas (vim para cá com 1 ano e 3 meses e ficamos aqui até os meus 7 anos), morando em Perdões.
Em Perdões nasceram meus três irmãos homens. Meu pai deixou terras no Paraná e quis voltar para lá. Aí nasceram as irmãs Nely e Vera. Moramos em várias cidades paranaenses; fui para Curitiba, estudei lá – na Universidade Federal do Paraná, trabalhei na Justiça do Paraná. Depois de formada, meus irmãos resolveram ir para Rondônia e nós, meus pais, também fomos e ficamos lá até 1991 – quando me aposentei no Estado de Rondônia e queríamos sair de lá. Tínhamos a opção de ir para o Paraná ou Minas. Escolhemos Minas.
Inicialmente fomos morar em Alfenas porque duas sobrinhas minhas e a Vera também queriam estudar. A Vera queria fazer e fez Curso Superior na Unifenas.
No primeiro ano em que chegamos aqui, eu e meu pai resolvemos comprar terreno no Retiro – porque aqui era a paixão do meu pai – Retiro dos Pimenta/Perdões.
Antes de eu terminar a casa, meu pai faleceu, infelizmente.
Depois da morte do meu pai, e a casa pronta, eu fui ficando aqui no Retiro, sozinha. Eu adorava aqui, como adoro até hoje.
E minha mãe ficou em Alfenas com a Vera, a Nely, e minhas sobrinhas.
Até que minha mãe ficou doente e eu a trouxe para cá. Moramos um ano em Perdões, em razão do frio aqui do Retiro.
A doença dela era pulmonar e assim moramos na Rua Lasmar por um ano. Voltamos para o Retiro e após um ano ela faleceu.
E a Vera continuava firme em Alfenas. A Nely veio também, pediu transferência do trabalho para Lavras, comprou a casa em Perdões, trouxe as meninas (e a Vera firme em Alfenas).
Aí a Vera veio para Perdões após o falecimento da mãe…e aqui estamos, fomos aumentando a casa e a Casa da Memória…
Eu não conhecia as cidades históricas de Minas e desde a primeira vez em que fui a Tiradentes, eu me apaixonei pela história de Minas, pelas coisas antigas. E com base nisso comprei a casa aqui ao lado e instalamos uma “espécie de museu” – um simples ‘ajuntamento’ de coisas antigas.

Jornal VOZ: Como foi essa mudança de uma cidade para outra – trabalhando antes na Justiça e depois vindo para cá?
Norvina: Eu nunca quis continuar na carreira. Me aposentei como Promotora de Justiça. Estava na iminência de ser promovida a Procuradora, mas eu não queria continuar. Minha mãe muito doente, meu pai muito doente.
E nós lá em Porto Velho, éramos meio sozinhos. A gente se misturava só com Promotores – todos de fora, porque nós fomos os primeiros Promotores do Estado de Rondônia, antes era território e quando foi transformado em Estado, nós já estávamos morando lá.
Eu já estava cansada e queria voltar a morar próximo a parentes. Morávamos num condomínio só de Promotores de Justiça.

Jornal VOZ: E você Vera Lúcia, como veio para cá morar com a Norvina?
Vera: Depois que minha mãe faleceu, fiquei mais uns três meses em Alfenas.
Aí minha irmã falou que estava sozinha e perguntou se eu não queria vir, e acabei vindo…

Jornal VOZ: E como foi a formação da Casa da Memória com os objetos que tem hoje?
Norvina: Eu ganhei muita coisa e comprei também.
Quando você pega aquela estrada em Lavras para ir a São João Del Rei, por ali, quem vai à esquerda encontra uma tapera, digamos assim, cheia de coisas antigas. E muitas coisas aqui na Casa da Memória, adquiri lá. Ele não vendia as coisas a preço de antiquário, vendia a preços mais acessíveis. Inclusive, tenho um arreio feminino, que não se vê hoje. É do tempo em que as mulheres cavalgavam de um lado só com aquelas saias.

Desenho das casas do Retiro de 1930.
Cada casa tem o nome do morador da época

Jornal VOZ: Agora as visitas são restritas devido à pandemia, mas antes como eram as visitas? Havia um agendamento?
Norvina: No início nós abríamos ao público, aos domingos, mas por uma falha nossa, a gente não divulgava como devia.

Jornal VOZ: Norvina, como você analisa o papel da mulher há anos atrás e atual?
Norvina: Houve uma revolução muito grande. Fico fazendo uma comparação com o papel da minha mãe, das minhas tias. Somos muito família. Fomos criadas juntinhas.
E elas não tinham voz ativa. Minha mãe passou a ter alguma independência, depois que eu me tornei independente, aí ela começou a falar mais alto. Mas antes disso, como ela não tinha apoio, ela era bem submissa.
Agora quando vejo essas agricultoras felizes com o trabalho – são donas das roças, fico feliz.
Essa Associação – AMAGRI como é importante para essas mulheres!

Jornal VOZ: Como a senhora vê o quadro atual – a pandemia?
Norvina: Parou tudo. A gente liga a televisão e é só pandemia e política suja.

Jornal VOZ: Suas considerações finais
Norvina: Nossa região é tão rica em história. Temos muito o que explorar.
A Casa da Memória representa isso – é um espaço pequeno, digamos assim, mas estamos tentando expressar essa cultura, essa história tão rica que temos em Perdões por muitos e muitos anos.
Tem muita coisa aqui para pesquisar, descobrir. E isso aqui é só o ‘comecinho’.
Após passar essa pandemia, nós vamos abrir aqui aos domingo. E espero que as pessoas visitem.

Galeria de fotos do Dia da Inauguração da
Casa da Memória
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