Palestra Futebol Clube: força e garra de geração a geração

3 de abril de 2016 12:52 2484

O Jornal VOZ está publicando as entrevistas com representantes das equipes que estão participando do 9º Campeonato de Futebol Amador de Perdões, realizado pelo Independente Esporte Clube.
É uma iniciativa do VOZ e nessa edição conversamos com o atual presidente do Palestra Futebol Clube, Luciano Carlos de Oliveira (Lau), acompanhado de Flávio Soares e Dair Pereira que fazem parte da história desse time do coração de todos eles.
Flávio Soares e a reportagem agendaram a entrevista gravada na “quadra da Palestina” – no Bairro Nova Esperança, onde com muito orgulho guardam mais de 40 troféus entre os 80 que ganharam com muita garra.
Depois Luciano(Lau) pediu que Azarias (Benzinho) viesse à redação do VOZ para complementar sobre o que disseram na quadra sobre a origem do Palestra.
Luciano/Lau é presidente do Palestra F.C há 4 anos, Dair foi presidente durante 15 anos, mas esteve nessa equipe durante 28 anos, onde atuou como jogador, como treinador e após o falecimento do Sr.Chiquinho, continuou como presidente. Lau e Flávio também foram jogadores e trouxeram muitos títulos para o Palestra.
Durante a entrevista, houve momentos de emoção, ao recordarem sobre as lutas, as vitórias e todo o amor que têm pelo Palestra Futebol Clube de Perdões.

Jornal VOZ: Como surgiu o nome Palestra?
Azarias/Benzinho: O nome inicial do time era Palestina do Chiquinho Cardoso, na época veio o Nilson que mora em Divinópolis e aproveitou que o Raminho também organizava um time com o nome de Palestina, foi aí que o Nilson, o Paulinho ‘Sô Rosa’, o Seu Elias (pai do Nilson) conversaram com o Seu Chiquinho para colocar o nome de Palestra.
Assim teve o nome de Palestina por muitos anos. Depois ficaram dois times – o Palestra e o Palestina que tinha o Bié do açougue como presidente.
O Palestra surgiu há cerca de 40 anos. Fui jogador do segundo quadro há 35 anos, quando tinha 14 anos.
Consideramos como fundadores mesmo o Seu Chiquinho e a Dona Geni – serão sempre para nós, os presidente de honra, tanto do Palestina como do Palestra. Reconhecemos que teve outros presidentes, mas Seu Chiquinho e Dona Geni estarão sempre em nossa memória.
Dair: O Palestra iniciou com o Sr.Chiquinho e o Sr.Nilson e conforme o Seu Chiquinho me contava, eles jogavam muito num campo, onde hoje, é o Latemp. Foi ali que ganhou o primeiro troféu.
Jornal VOZ: Como vocês treinavam?
Luciano/Lau: Não tinha treino, porque antigamente tinha jogo todo domingo. A gente marcava jogo para outras cidades como Nepomuceno, Cana Verde, Campo Belo, hoje não tem isso mais, acabou. A gente tinha o primeiro e segundo time.
O Palestra é conhecido em toda região, e sabemos que muitos têm o sonho de jogar no Palestra.
Em 2013, juntamente com o técnico Amarildo, que sonhava ser técnico do Palestra, nós ganhamos o campeonato da cidade, no primeiro ano em que fui presidente.
Jornal VOZ: Nesses campeonatos do I.E.C, constatamos que as equipes colocam jogadores de Perdões e jogadores de outras cidades no mesmo time. Sempre foi assim?
Flávio: Trazíamos pouco jogadores de fora, no máximo dois. Nesse campeonato de 2013, só dois mesmo, todos eram daqui.
Jornal VOZ: Flávio, o que significou jogar no Palestra?
Flávio: É tudo para mim. Tem muita coisa, tem sofrimento – muita gente acha que é fácil.
Assim que o Dair saiu, eram dois times – ”Us Kenga’ (o Luciano era o presidente) e o Palestra.
Quando o Dair pediu para sair porque estava cansado, aí perguntei ‘e agora?’. Porque sou fanático mesmo, tanto eu como o Luciano.
Assim, eu e Luciano entramos em acordo para montar apenas um time – unir as forças, continuar com o Palestra.
E chegou num ponto, Regina, que no primeiro jogo nosso, no campeonato de Carmo da Cachoeira, não tinha as camisas. Aí tivemos que jogar com a camisa dos ‘Us Kenga’.
Luciano: Quando assumi o Palestra, tivemos que correr atrás de tudo: meias, camisa. Eu, o Flávio e os Meninos corremos atrás disso. Hoje, graças a Deus, temos três jogos. Inclusive fomos campeões em 2015 no campeonato em São Sebastião da Estrela.
Jornal VOZ: Nesse período em que vocês estão no Palestra, houve muitas dificuldades?
Dair: Sempre teve, houve época em que fazíamos amistosos todos os domingos. A gente saia daqui com 11 jogadores para jogar na roça. Jogávamos nos quatro tempos – éramos dois times. A gente tinha que tirar o dinheiro do nosso bolso para jogar.
Já paguei condução para jogarem e manter o nome do Palestra.
Até eles comentaram (Flávio e Luciano) agora, que o Palestra ficou sem camisa, quem distribuiu essas camisas, fui eu e a última vez que fomos campeões, foi em Santo Antônio do Amparo – o jogo mais bonito. Nesse dia, deixei todo mundo levar tudo (Dair mostra a reportagem, o lindo troféu que ganharam).
Tive que jogar como goleiro porque o goleiro Dogão quebrou o pé e o outro goleiro estava trabalhando em BH. Os Meninos falaram que eu teria que jogar no gol. Falei: ”jogar como, se estou há tanto tempo sem jogar?”, aí eles falaram: “o senhor sempre fala que a gente tem que ajudar o Palestra, dessa vez o senhor tem que ajudar a gente.”
Jornal VOZ: Fale sobre uma das épocas marcantes para você no Palestra?
Dair: A época em que lançamos os Meninos foi muito marcante, mas antes disso houve uma época em que todos do Dominó jogavam pelo Independente. Disputavam campeonatos fora.
O Palestra era só do Bairro Palestina. Na época o Jurandir foi o artilheiro do campeonato e eu fui o goleiro menos vazado do Campeonato.
Fomos para a final – Palestra x Dominó. As arquibancadas do Independente ficaram completamente lotadas, tanto os torcedores da Vargem, como dos outros bairros.
Primeiro jogo foi 1 x 1 e no segundo jogo, ganhamos de 1 x 0, gol do Geraldinho, acabou de fazer o gol e foi para a Santa Casa – o goleiro ‘trombou’ nele. Sofremos muito. No ataque só ficavam o Benzinho e o Jurandir – eles se viravam como podiam.
Isso me lembro como se fosse hoje: na última bola do jogo, aos 44 minutos, a torcida do Dominó saindo tudo, o Palestra fazendo festa, estava 1 x 0 para nós – na final, último jogo – aí deu um escanteio do lado do Bar, quem bateu foi o Zinho, irmão do Naldinho, batia falta, bem demais. O Deca cabeceou a bola (naquela época ninguém cabeceava como ele) – o Deca subiu e testou para o chão.
Eu lembro que eu subi e desci com ela agachadinho. Aí todo mundo veio para o campo, eu não sabia se chorava ou se ria. Isso não esquecerei nunca (eu tinha 22 anos, hoje estou com 50 anos).
Luciano: O que me marca muito é que na época eu bebia, hoje, graças a Deus, faz 14 anos que não bebo, na época eu fazia parte da diretoria do Palestra, e naquele jogo em que trouxemos dois jogadores de fora, fomos em Nepomuceno buscar o Carlos; meu ex-cunhado Mi, fez dois gols, um fora da área e o outro de cabeça. O jogo com os Meninos.
Jornal VOZ: Conte sobre a história de algum desses troféus?
Flávio: Todos são importantes, mas considero como o mais importante é quando fomos vice-campeão em 2009 aqui no Independente.
A gente tinha perdido a final, eu tinha levado a charanga, ai falei ”perdeu o jogo, ninguém vai bater”, guardei o instrumento lá no Nenê do Cantão. Aí a turma me chamou e quando olhei para trás, estava igual uma escola de samba, estava cheio de gente.
Todos os troféus têm muito valor, mas esse tem um significado diferente.
Jornal VOZ: O esporte poderia ser mais valorizado?
Dair: O esporte mundial fracassou. O Brasil é o país que menos investiu nessa área de esporte.
Hoje, as prefeituras, no geral, acabaram com tudo. Culpo os governantes, não investiram no esporte como deveriam.
Uma coisa que tenho vontade de ver é Perdões fazendo campeonato só com atletas da nossa cidade. Inclusive o Luciano/Lau levou dois times no campeonato de São Sebastião da Estrela. Vi os Meninos que ele levou e no jogo em que eu estava como árbitro, ‘babei’ de ver esse Meninos jogarem.
Tem muito menino bom de bola, infelizmente, o que está faltando é oportunidade, porque não tem apoio de nada. Não tem onde treinar. Não tem onde jogar.
Como um campeonato desse que está sendo realizado, a gente tem que investir, tem que se virar para pagar. E não tem retorno. O retorno que tem é o amor pelo time.
Repito: sonho em ver um Campeonato Municipal para vermos como tem meninos bons aqui.
Apitei um jogo em Santo Antonio do Amparo, sábado retrasado e tinha muitos Meninos de Perdões, disputando campeonato lá, e aqui ninguém vê esses meninos.
Flávio: Seria importante que se fosse em cada bairro e perguntasse o que está precisando. Você não tem apoio e precisamos disso.
Luciano/Lau: A gente tem boas sugestões, mas infelizmente alguns do esporte mesmo, não querem nos ouvir.
Pode reparar que geralmente aquele jogador que chega com a chuteira suja de barro, tem tudo para ser um dos melhores.
Quero destacar que os torcedores, hoje em dia, vão para os estádios para torcer e não para brigar como muitos pensam.
É o amor ao time e à bola.

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