O dia que aprendi a soletrar

14 de outubro de 2024 11:07 649

Num fim de tarde de uma sexta-feira, Joyce e eu decidimos fugir.

– Oh Joyce, vamos brincar de fugir? – sugeri.

– Vamos, mas pra onde? – empolgou-se Joyce.

– Que tal pra rua de cima, atrás do fusca que fica ao lado do bar do seu Zé?

– Legal, vamos!

E, então, montamos um plano de fuga, uma pegava a chave do portão, e a outra vigiava as nossas mães.

Já estávamos fora de casa, subindo a rua em direção ao fusca, carregando uma boneca, uma bola e um saco de balas – na nossa cabeça de criança era tudo o que precisávamos.

– Jeane, fica vigiando pra ver se ninguém tá vindo. – alertou Joyce.

– Tá bom, se alguém vier eu falo. – respondi empolgada.

Sentamos na mureta e comemos balas, quando percebi uma movimentação. Estavam na rua, a nossa procura, a minha mãe, a mãe da Joyce, a minha tia e uma vizinha.

– Joyce, elas estão caçando a gente. – caímos na gargalhada.

– JEANE! JOYCE! CADÊ VOCÊS?! – gritavam desesperadas. Até que a vizinha nos avistou e avisou as nossas mães.

– Acho que elas viram a gente. – Joyce me cutucou, vendo minha mãe subir a rua, com um chinelo na mão.

Não pensei duas vezes, saí correndo, dando voltas no fusca, enquanto minha mãe tentava me catar. Quando me alcançou, segurou meu braço, e enquanto o chinelo estralava, ela soletrava:

– Q U E R O  V E R  V O C Ê  F A Z E R  I S S O D E  N O V O,  M E N I N A!

Feliz dia das crianças!

Elisa Lima

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