A namorada

17 de abril de 2016 12:36 1740

Muitas paixões balançaram o meu coração. Exceto a última, todas as outras duraram algum tempo, mas terminaram sem maiores complicações. Uma delas, entretanto, merece ser relembrada.
Em meados de 1967, estava namorando uma colega de escola. Estudávamos no ginásio e éramos colegas de sala. Com as dificuldades naturais dos namoros daquela época e com a timidez que eu carregava comigo (e ainda carrego), encontrávamos pelas ruas, conversávamos pouco, mas a paixão crescia em ambos, impulsionada pela força da juventude.
Uma de suas amigas estava com os olhos voltados para o meu amigo, hoje meu cunhado e compadre, Zezão. Ele sempre foi uma ótima pessoa, companheiro sem defeito. Era namorador também. Conversando sobre as meninas resolvemos convidá-las para irmos juntos ao cinema. Seria a primeira vez que o meu amigo ia se encontrar com a sua pretendente.
Acertei com a minha namorada e, num sábado, seção única de cinema, lá está- vamos nós quatro na fila para comprar os ingressos. Como era de costume, o Zezão foi ao Bar do Cinema comprar balas. Ingressos nas mãos, moças à frente, subimos aquela escada comprida e sentamos no lado esquerdo do corredor central, no meio da fileira. Sentamos o Zezão, a namorada dele, a minha namorada e eu.
A sala do cinema foi se enchendo. As músicas, uma após a outra, iam criando um clima propício para os idílios amorosos. O filme era “Os Bravos Morrem Lutando”, um filme de 1964, dirigido e estrelado por Frank Sinatra.
Começou o prefixo musical, em seguida a dança das luzes e depois as três batidas do bordão. Primeiro o Canal 100 apresentou Flamengo versus Bangu, final do campeonato carioca de 1966. Em seguida, trailers e, finalmente, o filme começou. Com ele, a nossa busca por objetivos cada vez mais inconfessáveis.
Quando eu já estava acomodado, de mãos dadas com a minha namorada, tranquilamente assistindo ao filme, a namorada do Zezão saiu da cadeira onde estava, sentou-se junto da minha namorada e cochicharam alguma coisa. A minha namorada, muito sem graça, pediu-me desculpas e disse-me que iria sair do cinema junto com a amiga, que estava com algum problema não esclarecido. Saíram. Imediatamente o Zezão sentou-se ao meu lado. As duas cadeiras 2 que vagaram foram ocupadas por outras pessoas, uma vez que o cinema estava lotado.
Imediatamente perguntei ao Zezão o que aconteceu. Por que a namorada dele, sem mais nem menos, levantou-se e saiu e ainda levou a minha namorada?
Ele, muito sem jeito, explicou-me:
– Eu pedi a minha namorada para pôr uma coisa na mão dela. Ela se assustou, tirou a mão dela da minha e levantou-se num átimo.
– E que raio de coisa você queria pôr na mão da moça, Zezão? Perguntei-lhe, já meio sem paciência. E ele, na maior simplicidade, respondeu-me:
– Uma bala Chita.

Vicente Castro
Belo Horizonte (MG), março de 2014

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