À medida que 2025 chega ao fim, cada um de nós carrega a sensação de ter atravessado um ano que mexeu profundamente com quem somos. Entre desafios, mudanças inesperadas, ajustes emocionais e pequenas vitórias diárias, fomos convidados – quase forçados – a olhar para dentro com mais sinceridade.
Em meio a tantas transformações, uma pergunta ecoou com mais força:
quem somos nós quando as luzes se apagam?
E, talvez ainda mais importante: temos coragem de ser quem realmente somos?
Essa reflexão ganhou um novo significado por meio da música “Demons”, tão compartilhada e ressignificada ao longo do ano. Sua tradução escancara uma verdade que muita gente tenta esconder: todos carregamos sombras. Todos temos medos, falhas, dores silenciosas e histórias que preferimos deixar guardadas.
Quando a letra diz “é onde meus demônios se escondem”, ela fala da parte de nós que raramente mostramos – e que, ainda assim, influencia quem somos.
Mas, entre todas as interpretações possíveis, talvez a mensagem mais bonita e amorosa seja esta: coragem é aceitar que não somos perfeitos – e, ainda assim, merecemos amor.
Vivemos em um tempo que exige muito: sorrisos constantes, força inabalável, produtividade absoluta. A perfeição virou produto, performance, cobrança. Mas, por trás do sorriso de cada pessoa, existe alguém tentando lidar com seus limites, equilibrando sentimentos e enfrentando tempestades internas.
Ser autêntico, nestes tempos, é um ato de amor.
Amor pela própria história.
Amor pelas partes de nós que ainda estão em construção.
Amor suficiente para não se abandonar.
É perceber que vulnerabilidade não é fraqueza — é ponto de encontro.
É quando deixamos de fingir força o tempo todo que passamos a construir relações mais verdadeiras, mais humanas, mais possíveis.
A música lembra isso quando diz:
“Eu quero esconder a verdade…
Mas, com a fera dentro, não há onde se esconder.”
E então a vida nos coloca diante de escolhas: fingir, fugir ou enfrentar. E enfrentar, ao contrário do que parece, não é dureza; é cuidado. É um gesto de amor profundo – consigo e com o mundo.
Neste ano, muita gente encontrou esse gesto. Em pequenas conversas, em pedidos de ajuda, em pausas necessárias, em limites colocados, em vínculos reatados, em novos começos. Foram inúmeros sinais de que estamos aprendendo a viver com menos máscaras e mais verdade.
E talvez por isso, o verso:
“Seus olhos brilham tanto… eu quero salvar essa luz.” tenha tocado tanta gente porque cada pessoa carrega uma luz única – às vezes enfraquecida, às vezes intensa, mas sempre presente. E é preciso coragem, sim, para protegê-la.
Para 2026, levamos conosco:
-a força dos que enfrentaram seus medos, mesmo tremendo,
-a sensibilidade de quem acolheu as próprias dores,
-o brilho das histórias que nos moldaram,
-e a coragem silenciosa de continuar, mesmo nos dias difíceis.
Se 2025 nos mostrou as sombras, que 2026 seja o ano de transformá-las em aprendizado e caminho.
E isso se faz com verdade, com gentileza, com cuidado — e com amor.
A coragem de ser quem realmente somos nasce justamente daí: do amor que temos por nossa própria humanidade.
Do amor que oferecemos a quem caminha ao nosso lado.
Do amor que nos permite dizer com suavidade e verdade:
“Eu também estou tentando. Eu também sinto. Eu também sou humano.”
Assim encerramos o ano: mais maduros, mais sensíveis, mais inteiros, mais amorosos. E, acima de tudo, mais verdadeiros.
Jucilaine N S Wivaldo (Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Extensão – UFLA; Pós-Graduação em Educação Ambiental com Ênfase em Espaços Educadores Sustentáveis; Pós-Graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável