Quando acessamos a página da Tonga da Mironga no facebook e clicamos lá no “Sobre” encontramos: A ‘Tonga da Mironga’ é uma banda que nasceu pelo acaso das rodas de música e brincadeiras de amigos, e teve sua primeira apresentação ‘oficial’, no fim do ano de 2011. Seu estilo e identidade foi sendo moldado diante dos homogêneos palpites de seus primeiros integrantes – Guilherme, Thiago, Sherew, Helyson, Kimaid, Bizunga e Luiz que posteriormente ganhou força com a chegada de novos integrantes – Renan, Russo e Marquinhos da cuíca.
A proposta da ‘Tonga’ era de encontrar um espaço para levar até as pessoas a verdadeira música brasileira, que vem sendo esquecida e até mesmo substituída. Aos pouquinhos foi conquistando seu espaço entre os amigos e passou-se a não faltar-lhe oportunidades para uma apresentação ou uma farra!
Seu público foi aumentando com saudosos de outrora e novos adeptos à boa e velha música popular brasileira.
A ‘Tonga’ teve seu momento sublime, quando teve por iniciativa própria, a organização e execução do evento que teve como tema, uma homenagem aos 100 anos do poeta Vinícius de Moraes em parceria com a fantástica ‘Casa do Bosque Pub’.
Em resumo, a banda ‘Tonga da Mironga’ tem como ambição se divertir em simbiose com os amigos e o ambiente onde toca a ‘Tonga’ será inevitavelmente um ambiente alegre e carregado de amizade, energias positivas e musicalidade! “, descreve a página.
A Tonga da Mironga é tudo isso mesmo que está na página do facebook e muito mais para quem tem a oportunidade e o privilégio de ouvír os seus músicos e poetas cantarem e tocarem os instrumentos musicais que se tornam a continuação de suas mãos, bocas e almas…
A Tonga está completando e comemorando 5 anos e a reportagem do Jornal VOZ esteve no ensaio da Banda no último dia 16, sexta-feira, às 21 horas.
A entrevista gravada e sem ensaio foi no Salão de eventos do Condomínio no Bairro São Dimas num ambiente descontraído com a presença de dois músicos convidados que participarão dos eventos comemorativos da Banda: Carol e Thales.
O que todos eles têm em comum além da clara amizade e respeito?
O bom gosto musical, conhecimento e amor pela MPB.
Jornal Voz: Seu nome e o que você está fazendo na Tonga da Mironga?
Meu nome é Caroline, é a minha segunda participação na Tonga da Mironga. É um prazer muito grande estar aqui. É uma turma muito boa e pretendo fazer mais participações. Aqui eu canto.
Sou o Bizunga da percussão. Estou desde o começo da banda. É uma alegria sempre estar com a moçada tocando.
Sou o Renan, toco pandeiro, faço parte da banda desde o início e é um grande prazer estar participando dessa festa de 5 anos.
Meu nome é Marco Antonio, mas todo mundo me conhece como Chita, toco cuíca e algumas vezes, tamborim também. Faço parte da banda desde o início.
Sou o Kiko, também estou desde o início da banda, atualmente ‘estou’ no surdo.
Álvaro, sou violonista, juntamente com o Guilherme. Não fiz parte da primeira formação da banda, entrei posteriormente. Faço participações sempre que estou aqui. Quando precisa faço participações na percussão.
Meu nome é Thiago e sou um dos idealizadores da banda. Estou desde o início junto com o Guilherme. Minha função na banda, hoje, é vocal e em algumas situações faço alguma coisa de violão.
Eu sou Thales, fui convidado a fazer uma participação tocando cavaquinho e pretendo continuar na banda.
Meu nome é Helyson, sou instrumentista de sopro, não estou exatamente desde o início, mas logo no início fazia algumas participações especiais a convite do Thiago nos instrumentos de sopro e acabei criando raízes permanecendo no grupo.
Jornal VOZ: Quais instrumentos de sopro?
Helyson: No início comecei com a gaita, depois acrescentei o trombone, agora a flauta e alguns instrumentos pela necessidade das músicas que pedem.
Jornal VOZ: Por que Tonga da Mironga?
Tonga da Mironga: Na verdade o conjunto nasce antes de ter o nome. Na primeira apresentação a gente precisa divulgar e ficou nas mãos de Thiago. Precisava arrumar um nome para colocar no cartaz para tocar no Bar do Juarez (em 2011).
Nesse momento Thiago estava ouvindo a música do Vinícius de Moraes – a Tonga da Mironga do Kabuletê – Thiago já ouvia o Vinicius falando sobre o significado dessa letra que é um idioma nagô – africano – da época da ditadura em que se usava muito esses recursos para poder ‘cutucar’ o povo e trazer à tona alguns assuntos que eram proibidos na época.
Aí Thiago falou ‘poxa, vamos chamar a Banda Tonga da Mironga’, por enquanto, depois a gente vê. A galera gostou e não quis trocar.
Jornal VOZ: Qual o estilo da Banda?
Tonga da Mironga: A gente toca música brasileira. MPB, samba de raiz, bossa nova, forró, baião e até mesmo um chorinho, às vezes. É bem mesclado os ritmos da Tonga – o foco é a música popular brasileira.
Jornal VOZ: A gente percebe que todos têm em comum à música, mas cada qual tem seu dia a dia aqui em Perdões ou em outras cidades?
Como vocês fazem para os ensaios?
Tonga da Mironga: Esse é o maior ‘problema’ da Banda. Como cada tem sua vida e mora em lugares diferentes. É difícil ‘juntar’ todo mundo.
Hoje, por exemplo, é um evento – é mais fácil ter show do que ter ensaio.
Com os recursos da tecnologia, a gente passa as músicas via internet, aí a gente baixa, escuta.
Bizunga, por exemplo, costuma botar a sequência de música de show, num pendrive no carro, vai escutando a sequência – é uma forma de ensaiar e estar com tudo na cabeça.
Jornal VOZ: Quando vocês iniciaram, imaginaram que chegariam a esse sucesso de 5 anos?
Tonga da Mironga: Bom, não achamos assim… achamos que a gente tem um carinho muito especial do público que dá esse “alimento” para a gente continuar persistindo com a música.
A banda não é profissional, a banda não assume shows como grandes bandas profissionais, justamente pelo fato de cada um ter seus compromissos pessoais e nem sempre dá para tocar.
A banda se diverte muito fazendo música, isso é o principal, não ganhamos dinheiro com isso. Temos sim, músicos profissionais na banda.
Enfim a banda toca para divertir, toca na alegria do povo.
Jornal VOZ: A música tem seu devido valor nas esferas federal, estadual e municipal?
Helyson: Acho que não! Ela tem muito mais interesse comercial do que um valor, às vezes de letra, melodia e harmonia.
É uma música de fácil acesso, com pouca erudição na sua construção, por isso que ela pega mais fácil do que pega uma música popular.
Thiago: Perdões é uma cidade muito musical, talvez por ter uma Bandinha como a do Sr. José de Assis; não só a Tonga, como várias outras bandas aqui em Perdões, nem sempre de música popular brasileira, mas rock, existe muito essa pegada. Bandas de qualidade com outros gêneros musicalmente interessantes.
Bizunga: Acho muito importante que todos os governos – municipal, estadual e federal incentivem as escolas a terem uma aula de música, todos os alunos, conhecerem música, mesmo que o aluno não tenha o dom para ser um músico, ele vai aprender e apreciar músicas de qualidade e acho muito importante também com a evolução da pessoa como cidadão.
Jornal VOZ: Quem o (a) influenciou, incentivou ao que você conhece hoje de música?
Thales: Desde pequeno escuto meu pai, seus discos de vinil que ele gosta e eu também gosto. Acho que herdei muito disso dele, a questão de gostar de música popular brasileira, coisa que entre os meus colegas, o pessoal da minha faixa etária entre 17 e 18 anos – não é o tipo de música mais popular entre eles.
Tanto é que quando vou sair com meus colegas, tenho essa dificuldade de me adaptar ao tipo de músicas que eles escutam, mas isso eu relevo.
Herdei isso do meu pai, principalmente, e também das pessoas com as quais convivo, o maestro Isaías, o Helyson, a Carol.
Helyson: Eu tive várias influências, hoje eu tiro essa conclusão.
Em casa eu ouvia muito com meu pai os rock dos anos 60, 70, Beatles. Na Lira Perdoense, quando lá fazia parte, tive a oportunidade de conhecer os grandes boleros antigos, alguns a gente nem encontra gravação hoje em dia; na Universidade eu tive contato com a música erudita e na Orquestra de Flautas do Isaías onde eu fiz boa parte de minha formação musical foi com a MPB.
Foi uma construção de influências e aqui na Tonga tive a oportunidade de alguns contatos com o samba de raiz que eu não tinha tanto na minha vivência.
Carol: Bom, grande parte foi meu pai que é o sertanejo mais amante da música popular brasileira que eu já vi e ele sempre teve uma preocupação muito grande com a letra da música e isso me incentivou bastante buscar essa poesia. E não tem um lugar melhor para buscar do que na musica popular brasileira, especificamente nordestina – Fagner, Zé Ramalho, Belchior – esses cantores sempre me encantam muito – são muito poetas, bem sentimentais. Isso sempre me atraiu muito e me atrai até hoje.
Bizunga: Venho de uma família, onde na casa do meu avô tinha uma sala exclusiva para música, com sofás e equipamentos de som, onde a família se reunia e ouvia todos os tipos de música, passando da clássica, operetas, música popular e minha avó era violinista. Toda cidade do interior tem uma fanfarra e desde os 10 anos de idade, sempre toquei em fanfarra até o final do segundo grau.
Após cada ensaio, a gente tocava samba, assim todo ano, eu saía em escola de samba.
A cidade é Muriaé, Zona da Mata, lá havia um concurso de fanfarras nas escolas e as fanfarras tinham 300 integrantes, as pessoas investiam muito na música, assim como Perdões que é bem diversificada com poetas, cantores e músicos e a gente acaba participando de uma banda como essa.
Renan: Quando era mais jovem, eu não tinha um estilo próprio – gostava de samba, MPB. Com o passar do tempo passei a “degustar” as letras e as percussões.
Meu avô até fez parte da Bandinha tocando clarineta, mas fiquei sabendo isso só depois de um tempo.
Após pesquisar melodia e tudo mais, hoje me interesso muito pelas letras.
Chita: Essa influência de músico, não tive de ninguém. Na minha família ninguém sabe tocar nem caixinha de fósforo, mas eu gosto muito de música. Meu repertório é eclético, escuto desde sertanejo caipira mesmo até o rock pesado, digamos assim.
No caso aqui da Banda, sempre fui amigo do pessoal desde menino.
Eles começaram a cantar e tocar e eu por gostar de música e gostar do pessoal, aí arrumei um instrumento para eu tocar – comecei com tamborim, consegui comprar uma cuíca e estou com ela por aqui.
Kiko: Cresci com a música também. Minha mãe tocava violão. Aprendeu sozinha, ninguém a ensinou, através dos livrinhos, então desde pequeno, no Natal e todas as festas, minha mãe pegava o violão e começava cantar. Músicas antigas, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, e sertanejos antigos. Daí tentei entrar para a música e não consegui quando era jovem. Só quando entrei na faculdade quando fui para São João Del Rei e entrei numa república de músicos e quando você entra numa república assim, você tem que, pelo menos batucar. Aprendi, e até formar a Tonga, a gente vai melhorando com o tempo.
E é isso que a Tonga está proporcionando para a gente que não tem muita experiência de estar convivendo com a música mais próximo.
Álvaro: A minha influência musical veio exclusivamente do meu avô, um grande violonista perdoense, o Senhor Diniz. Cresci ouvindo os discos de vinil que ele tinha e a maioria de música popular brasileira – o samba, o samba de raiz, Noel Rosa, Chico Buarque, Milton Nascimento.
Eu ficava admirado com ele tocando, eu era muito novo, mas observava e ficava admirado com a habilidade que ele tinha para tocar o violão.
Quando ele faleceu, que resolvi me dedicar ao violão, escutar a fundo o violão e como o Helyson falou, demanda um certo estudo, erudição.
Thiago: No meu caso, embora a família de meu falecido pai tenha tradição com música, não tive influência nenhuma da minha família com a música.
Eu acho que o que me levou principalmente à música brasileira foi a literatura. Ao começar a ler os clássicos do Brasil, percebi que tinha uma relação muito intima, não só os clássicos, mas também as poesias – Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, nossos maiores poetas como Drumond de Andrade – que tinham uma ligação muito íntima com a música inclusive parcerias musicais que me levou a conhecer Chico Buarque, a parceria do Vinícius com Toquinho, nisso fui me envolvendo a cada dia mais até eu conhecer o Guilherme que tocava muito violão, e aí falei ‘pôxa’ a gente precisa fazer uma banda, juntamos alguns outros amigos e começamos a tocar e chegamos aqui nesses 5 anos.
Guilherme: Violonista da Banda. Eu cresci ouvindo MPB, minha família toda gosta muito de música, pessoal tocando o violão, e desde cedo com essa influência comecei a pesquisar mais e cada vez gostando mais.
Jornal VOZ: Por que a Tonga da Mironga escolheu a casa da Dona Rosinha para esse evento de comemoração dos 5 anos da Banda?
Tonga da Mironga: Nós escolhemos a casa da Dona Rosinha por vários motivos; mas o principal é que a casa da Dona Rosinha representa muito para a cultura perdoense, não só no nicho musical, mas também em outras manifestações culturais, como reinado, carnaval, ou seja, várias manifestações culturais são intimamente ligadas com a casa da Dona Rosinha.
E um dos integrantes da Banda Tonga da Mironga que não está presente hoje nessa entrevista, mas é um integrante muito especial, é neto da Dona Rosinha – o Marco Túlio.
Enfim, é um lugar em que já tocamos várias vezes e representa muito para nós.