Dizem que as pessoas observadoras, geralmente, são mais caladas, eu falo pelos cotovelos. Se deixar, não calo a boca um só segundo. O silêncio me incomoda. Eu sei que isso é um defeito, só que ele não me perturba a ponto de mudá-lo. Sendo falastrão, ou não, faço a leitura do mundo à minha maneira. Pouca observação, muita experimentação.
Em meio a uma conversa despretensiosa, sou surpreendido com uma pergunta: “Quem é a pessoa mais importante da sua vida”? Não consegui responder de imediato. Imaginei que responderia de maneira espontânea: “Meus filhos, ora” – só que não.
Após alguns minutos de silêncio no chat, a pessoa insistiu: “Não precisa ter medo de falar”. Mas meu silêncio não era fuga, era reflexão.
Quando você decide ser pai – mesmo quando a gravidez não é planejada, como foi meu caso, aos 17 anos – sabe-se que a vida será adaptada. Alguns sonhos serão adiados, outros extintos. Por mais dolorido que isso seja, é exatamente essa a realidade. Outros sonhos nascem, sim é verdade, mas sonhos são insubstituíveis.
Após o término do meu casamento, passei uma temporada na casa dos meus pais. Ainda havia esperanças do retorno da relação, havia medo de recomeçar e não havia grana. A vida tornou-se cômoda. Na casa dos meus pais, não tinha responsabilidade nenhuma, meu tempo com meus filhos era dedicado única e exclusivamente para brincar com eles. Esse não é o papel de um pai. Pai é cuidado. Pai é zelo. Pai é responsabilidade. Responsabilidade com a higiene, com a alimentação, com o emocional, com o lúdico também.
Na primeira oportunidade, consegui uma casa, justamente pra voltar a me sentir pai dos meus filhos e não coleguinha de fim de semana.
Essa obsessão por ser útil, acontece também nos relacionamentos. Minha mãe costuma dizer que nunca namorei, caso na primeira semana. Meus relacionamentos, desde muito cedo, eram pesados, dotados de uma grande carga emocional, compromissos, cobranças. A cobrança não era apenas no outro, eram cobranças minhas. Sempre houve uma necessidade descabida de estar presente, de sentir-me prestativo, servil. O outro passa a ser o centro do meu universo. Não, isso não é lindo, isso não é poético, o excesso de dedicação não é sadio. Ele sempre está acompanhado de aprisionamento emocional.
Somente aos 33 anos, resolvi dedicar tempo a mim. Sempre acreditei ter potencial para alcançar meus objetivos, nunca arrisquei. Preso às pessoas, imóvel entre amarras emocionais, sentia-me um velho frustrado.
Indo contra tudo que sempre ouvi, a solteirice depois dos 30 me fez muito bem. Sozinho, redescobri velhos hábitos. Desenvolvi talentos. Me permiti situações de desconforto. Enfim, sinto-me vivido.
Sem peso algum na consciência. Sem culpa nenhuma no coração. Certo do amor imensurável que sinto pelos meus filhos. Posso afirmar com toda a convicção contida no cosmos: hoje sou a pessoa mais importante da minha vida.
Por Paulo Curió
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