
A Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, é um dos acontecimentos mais marcantes da história brasileira. A forma como ela é interpretada varia conforme o olhar de cada historiador, pesquisador ou corrente política. Por isso, ao analisar o episódio, é importante compreender os fatos, os interesses dos grupos envolvidos e o contexto do período, sem assumir um lado ou emitir juízo de valor.
Em primeiro lugar, é inegável que não houve participação popular direta. A república não foi resultado de um movimento massivo das ruas, de plebiscitos ou de pressão popular organizada. Para a maior parte da população brasileira majoritariamente rural, recém-saída do regime escravocrata e afastada da vida política, o 15 de novembro passou quase despercebido.
A mudança de regime se deu no topo da estrutura de poder, e não na base.
Outro ponto importante é o papel desempenhado pelo Exército, sobretudo por oficiais insatisfeitos com o Império. Questionavam o tratamento que as Forças Armadas recebiam, sentiam-se secundarizadas na política nacional e viam no republicanismo uma alternativa para ampliar seu espaço de influência. A ação que depôs o imperador foi conduzida por militares liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca e realizada sem participação do Legislativo ou de qualquer processo constitucional. Por essa razão, muitos estudiosos classificam o episódio como um golpe militar, já que rompeu abruptamente a ordem vigente.
Entretanto, também é verdade que o Império vivia um momento de desgaste.
A aprovação da Lei Áurea, embora moralmente necessária, abalou as relações do governo com setores da elite agrária escravocrata, que apoiava a monarquia. Ao mesmo tempo, cresciam movimentos republicanos em cidades importantes, jornais defendiam abertamente o novo regime e grupos urbanos desejavam modernizações econômicas e políticas. Ou seja, embora a execução da mudança tenha sido restrita, havia um ambiente de questionamento que favoreceu a transição.
Após o 15 de novembro, a nova República buscou se institucionalizar. Foram promulgadas novas leis, estabelecida uma Constituição e reorganizada a estrutura do Estado. Com o tempo, o novo regime se consolidou, atravessando períodos de estabilidade e crise, autoritarismo e abertura. Assim, mesmo que a origem tenha ocorrido de forma abrupta, a república acabou se firmando como modelo político brasileiro ao longo das décadas seguintes.
Leandro Henrique