A Rádio Venino

28 de janeiro de 2017 10:21 2963

Em Perdões (MG), nos anos de 50, 60 e 70, pelo menos, existia uma rádio que todos da cidade ouviam. Não era dessas que o dial do rádio sintoniza, em AM ou FM. Essa rádio tinha um ótimo som 19e toda a cidade a ouvia com clareza. Era o Serviço de Alto Falante do Venino. Ficava bem no alto da Palestina, em frente à Igreja de Nossa Senhora das Mercês, e ele era o locutor.
Venino de Lima Rondon era abençoado por Nossa Senhora das Mercês. Homem simples, mas de muitos ofícios: fogueteiro (fabricava bombas e foguetes), carnavalesco, presidente do Clube Recreativo Ubirajara, entre outras atividades. Um grande empreendedor e comunicador. Como empreendedor, criou o Serviço de Alto Falante que funcionava como uma rádio local e que por muitos anos serviu à população perdoense. Com o seu empreendedorismo, trocou o nome do bairro onde morava para Palestina, o que elevou o status daquela região e da cidade. Como comunicador integrou, através do seu serviço de alto falante, toda a cidade de Perdões. Oferecia aos perdoenses música boa e de qualidade. Dava notícias de quem chegava e de quem partia. Anunciava, ao som de La Golondrina (Narciso Serradel Sevilla), executada pela orquestra de Billy Vaughn, o falecimento de alguém da cidade, informando o local do velório, o horário do sepultamento e os agradecimentos dos familiares. Dava recados, oferecia música aos aniversariantes, aos namorados e aos que estavam celebrando núpcias ou fazendo bodas de casamento.
Lembro-me, também, das festas de São Sebastião, no mês de agosto (em Perdões comemora-se o Dia de São Sebastião no dia 15 de agosto), quando o Venino soltava os foguetes de rabo. Era uma bomba grande, amarrada em uma taquara de uns 90 cm, e cujo rastilho ele acendia com o próprio cigarro. Jogava o foguete aceso para cima e que, depois de muito subir, explodia com um grande e poderoso estrondo.
No céu azul de agosto, ficava um rastro de fumaça. A vareta de taquara descia em zigue-zague, bem longe do lugar de onde ele lançou o foguete.
E dê-lhe música na Rádio Venino. Lembro-me de algumas: Angustia e Perfume de Gardênia, na voz estridente de Bienvenido Granda, Boneca de Trapo e Deusa do Asfalto, na voz grave e poderosa de Nelson Gonçalves, O Ébrio, com toda a dramaticidade de Vicente Celestino e Coração de Luto, no sotaque gaúcho de Teixeirinha.
Tenho vontade de me lembrar de outras músicas que eram sucesso na billboard do Venino e até mesmo de fazer uma playlist das que mais tocavam.

Vicente Castro
Belo Horizonte, janeiro de 2017


¹ – Fonte: Perdões e sua História – Cleuza Carvalho Marques

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