Às vezes a palavra usada: ‘‘quando eu era criança’’, traz a vivência de um mistério tão grande que não ficou parado no tempo. Em situações e comportamentos, podemos carregar nossa criança interior, acolhendo-a, resgatando-a, ou até a maltratando com nossa raiva e rancor. O nosso lado infantil positivo sabe apreciar e divertir, sonhar, dar gargalhadas e recomeçar.
Quando despertado o lado infantil negativo, voltamos ao comportamento da criança que empurra, carente, mimada e dolorida. Nossa criança interior é surpreendente.
Há momentos em que ela chega e balança o adulto, as vezes ele até chora e dá birra. Cuidar da criança não é colocá-la de castigo. O cuidar é acolher, compreender, sem se condenar nem culpar a ninguém. A história de todos passa e se constrói na infância. Reconhecer nosso lado belo e infantil e trabalhar a criança interior com respeito.
Todas as fases precisam ser honradas (isto é assumidas), pois elas nos ajudam a chegar até o momento presente. É lindo o trabalho de amar nossa criança, reconhecer suas carências e hoje como adultos, fazer-lhe companhia, resgatá-la. Amar e honrar a criança interior, faz de nós adultos mais responsáveis e amadurecidos. Pegar a criança interior pela mão, falar que não precisa mais ter medo, ser presente, presença.
Diz o poema de Fernando Pessoa: ‘‘a criança que fui, chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou; mas hoje, vendo que o que sou é nada, quero ir buscar quem fui onde ficou.’’
Sugiro uma música para meditar:
A criança que eu fui um dia. (Léo Carvalho).
Rogério Victor Azevedo – psicanalista