APAC de Perdões : Um trabalho de união e fé

5 de outubro de 2020 10:31 620

O Jornal VOZ convidou a presidente da APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados de Perdões , Isilda Rodrigues Neves; o Padre Rogério, o Pastor Valdeci e Ivone Castro para um depoimento sobre o voluntariado e a Pastoral Carcerária na APAC.
A APAC -Associação de Proteção e Assistência ao Condenados de Perdões – MG, foi fundada em 11 de novembro de 2003, localizada na Rua Alzira de Souza Lima, nº 144, Bairro Jd. Nova Esperança, Perdões – MG.
A APAC é uma entidade civil de Direito Privado, com personalidade jurídica própria, nos termos da Lei do País, que dispõe de um método de valorização humana, portanto, de evangelização, para oferecer ao condenado, condições de se recuperar, e tem ainda o propósito de proteger a sociedade, promover a justiça e socorrer a vítima. Amparada pela Constituição Federal para atuar nos presídios, possui seu estatuto resguardado pelo Código Civil e pela Lei de Execução Penal.
A APAC é filiada à Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), órgão coordenador e fiscalizador das APAC´s, reconhecidamente de utilidade pública, que tem a função de orientar, assistir e manter a unidade de propósitos das associações.
Opera como entidade auxiliar na execução penal e na administração do cumprimento das penas privativas de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e aberto. Sendo assim uma associação assistencial dos poderes judiciário e executivo, no que diz respeito em todas as tarefas ligadas a readaptação dos sentenciados. (fonte site APAC/Perdões).
Através dos depoimentos abaixo, o leitor poderá ter o maior contato sobre esse trabalho social e evangélico.

‘‘Confesso que quando conheci a APAC naqueles dias de dezembro, quando procurava presentes artesanais para os filhos dos nossos funcionários da fazenda, fiquei surpresa ao perceber que a tal ‘‘APAC’’ que me fora indicado, tratava-se de um ‘presídio’, pois isso ninguém havia me dito.
Os artesanatos que vi eram exatamente o que eu procurava, então conversei com o rapaz e fiz as encomendas. Notei que o rapaz que veio negociar comigo passou por uma grade e logo perguntei onde eu me encontrava! Foi então que fui conduzida através dessa grade ao andar superior e lá pude reconhecer alguns rostos de pessoas que haviam trabalho na fazenda durante a colheita. Enquanto ouvia a respeito das diferenças entre o sistema comum e APAC, recebi a ligação do meu marido que perguntava onde eu estava. Logo respondi que estava no presídio e ele me disse: ‘‘o que você está fazendo aí? Pelo amor de Deus, saí daí!’’ Quase dez anos depois ainda ouço muito essas palavras.
Gostei muito do que vi e me senti muito desafiada, então alguns dias depois voltei para saber como poderia ser voluntária. Tomei conhecimento das aulas de valorização humana e então pensei…eu bem que poderia ajudar ‘aqueles presos’, afinal havia adquirido muito conhecimento na Universidade e cursos e pensava que os títulos me permitiriam fazer algo naquele lugar.
Dei início então ao meu voluntariado e comecei a interagir com ‘aqueles presos’, fui ouvindo suas histórias recheadas de saudades de pessoas, tristezas, angústias, risadas e lembranças de como tudo havia começado…Senti algo forte! Pensava que eram pessoas como eu e que poderiam ser meu pai, irmão, avô, enfim.
Rapidamente percebi que nenhum dos meus conhecimentos e títulos poderiam fazer diferença na vida daquelas pessoas. Como atingir corações que se perderam e trilharam o caminho do crime? Logo, comecei a olhar pra mim mesmo e fui percebendo os meus pecados e falhas e vacilos que não eram públicos. Vi a arrogância do meu coração me sentindo superior àquelas pessoas, portanto assim como eles, pensei, necessito de uma reforma também! Foi quando pude conhecer aquele que pode realmente fazer algo por nós.
‘‘Eu lhes darei um coração novo e porei em vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra, desobediente, e lhes darei um coração bondoso, obediente.’’ (Ezequiel 38-26)
Desde então, venho caminhando juntamente com os recuperandos tendo a plena convicção de que somos todos recuperandos. Peço a Deus que possamos ser alcançados pela Graça e misericórdia, pois todos os dias carecemos de tijolos para a reforma na nossa vida.

Isilda Rodrigues Neves
presidente da APAC/Perdões

(nota da editora: esse depoimento impactante e sempre tão atual foi publicado também no livro ”Somos todos recuperandos” do Dr.Mário Ottoboni em 2017).

Saudações aos amigos do Jornal Voz!
Desde já agradeço a oportunidade de expressar sobre o trabalho da Pastoral Carcerária em nossa cidade. O trabalho social sempre me cativou por estar junto às pessoas e incentivar o crescimento espiritual.
No trabalho com os encarcerados, temos nosso norte no grande testemunho dos santos de nossa igreja, como São Vicente e Santa Dulce dos Pobres. No evangelho, em Mateus, o próprio Jesus fala da acolhida aos irmãos: “estive preso e viestes me visitar”.
No período em que morei em Oliveira, fui capelão do presídio, todas as sextas à tarde, fazia visitas, nas quais partilhava a Palavra de Deus, cantava muito e sempre falava que Deus cuidava de todos e como na parábola do Filho Pródigo, nos abraçava e dava oportunidade de recomeçar.
Chegando em Perdões, fiquei surpreso com o trabalho da Apac. Cada um tratado pelo nome, não se fala encarcerado ou preso, mas sim recuperando. Há um contato próximo com os recuperandos, através dos trabalhos manuais, estudo e correção fraterna. Logicamente quando se trata de recuperação e conversão, depende primeiramente da boa vontade de cada um, porém na Apac, os recursos são mais humanizados. Vencer preconceitos, incentivar valores, falar sobre Deus, é o caminho que tentamos fazer. Trabalhar junto ao Pastor Valdeci- Igreja Quadrangular, e Ivone -Centro Espírita Harmonia e Fé. Esta missão tem sido crescimento espiritual, partilha Ecumênica e Diálogo Inter-religioso. Agradeço também a amiga Lívia, que representa conosco as Aldeias de Vida. Em tudo Deus seja louvado pelo trabalho de amor. Gratidão e reconhecimento ao Dr Mário Otoboni, fundador das Apacs, que teve linda inspiração após participar do Movimento de Cursilho de Cristandade. Assim também, Dr Franz de Castro, que deu sua vida no propósito de ajudar os recuperandos.
Após o período do isolamento, convido mais pessoas a se unirem a nós nesse trabalho. Deixo como sugestão o filme: “Os últimos passos de um homem”.

Padre Rogério Victor Azevedo

APAC: Um trabalho de união e fé
Quando tive o privilégio de ser chamada a participar da Pastoral Carcerária não imaginava o quanto iria aprender de amor ao próximo e respeito às diferenças. Participando com Padre Rogério na Apac Perdões pude sentir os ensinamentos do Divino Mestre Jesus sendo colocado em prática.
O respeito às religiões e a convivência fraterna foi o que mais me chamou atenção. Vi pregações evangélicas sendo feitas por pastores, pelo padre Rogério e até por mim, e pessoas que abraçam outras religiões mas são cristãos, unidos neste ideal de amor; aprender e se modificar – na Apac caminhamos juntos, pois nos conscientizamos de que na realidade somos todos recuperandos – termo usado para identificar nossos irmãos privados da liberdade física mas já gozando da liberdade espiritual conquistada pelo amor a Deus e a Jesus.
Para mim, as lições compartilhadas acrescentaram mais ainda a responsabilidade pelas ações praticadas, pelas escolhas feitas e sobretudo pelo livre arbítrio colocado em ação.
Gratidão é o sentimento por ter a oportunidade de participar de tão maravilhoso encontro de irmãos diferentes e ao mesmo tempo tão iguais.
Desejo de coração que a Apac continue a ser esta casa de trabalho, aprendizado e recuperação.
Que Deus abençoe a todos os envolvidos neste projeto de amor chamado Apac – especialmente a Apac de Perdões.

(Ivone Castro – trabalhadora do C.E.Harmonia e Fé)

Olá, sou o Pastor Waldeci, e quero aqui expressar minha gratidão a Deus, por fazer parte dessa obra tão abençoada chamada APAC.
Desde sua fundação nessa cidade atuo como voluntário e, junto a outros irmãos de diferentes credos e denominações, levamos a palavra de Deus como o pilar maior mostrando e demonstrando que todos nós temos o direito do perdão e o recomeço de uma Vida Nova com Cristo Jesus.
Não foram somente flores, também muitos espinhos, mas sempre com o alvo de alcançar o perdido, obedecendo ao ide do Senhor Jesus. Temos como lema “Matar o criminoso e recuperar o homem”, sabendo que, nem toda a sociedade tem uma simpatia pela instituição, o que nós respeitamos e aproveitamos para convidar àqueles que queiram conhecer de perto esse projeto, que não temos dúvida que nasceu no coração de Deus.
APAC é onde o indivíduo preso cumpre sua pena e é confrontado com sua realidade de vida, através de palestras de valorização humana e cultos realizados por pastores, padres, trabalhos laborterápicos, eles tem a oportunidade de rever seus atos e conceitos, e reinserirem à sociedade com mudança de caráter e vida digna, porque entendemos que ninguém nasce bandido ou criminoso, mas por uma fatalidade da vida ou por algo que faltou lá atrás ou escolhas erradas, quando princípios e valores básicos, como família, religião, ética e outros não foram valorizados, e que esse raciocínio é bíblico “porque o Filho do homem, veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Mateus 18:11)
Nessa visão continuaremos trabalhando e nos doando, para que a nossa APAC continue salvando vidas e libertando o criminoso, trazendo-o a sua verdadeira identidade e liberdade.
Aproveito para agradecer aqueles que direta ou indiretamente acreditam e apoiam esse projeto. Hoje em nosso município e outros vizinhos, temos ex recuperandos, que passaram pela APAC, e são advogados, empresários, grandes profissionais em diversas áreas, e grandes chefes de família e cidadãos comprometidos em construir a cada dia, um mundo melhor, esses que entenderam a proposta do método APAC, mas que poderiam hoje fazer parte de uma estatística negativa. Isso não significa que todos irão mudar sua postura com relação ao crime, mas aquele que entenderem o significado dessa obra.
E finalizando, não passamos a mão na cabeça de nenhum preso, muito pelo contrário, é mais difícil cumprir pena em uma APAC que no sistema comum, pois existem regras e princípios básicos que devem ser seguidos à risca, confronto-os diretamente quando às sua falhas perante a sociedade, mostrando a cada um sua realidade e oferecendo oportunidade de mudança.
Agradeço a esse importante meio de comunicação de nossa cidade, o Jornal VOZ, por essa oportunidade de falar um pouquinho dessa obra abençoada chamada APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados.
Venha nos conhecer de perto, seja mais um voluntário nessa obra.
“Disse Jesus: a seara é grande e são poucos os ceifeiros” (Lucas 10:2)

(Pr. Waldeci Venancio
Vice-Presidente da Diretoria Executiva da APAC)

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