Toda vez que vejo um cafezal lembro da música Flor do Cafezal, “Meu cafezal em flor, quanta flor, meu cafezal”, interpretada por Inezita Barroso, que me traz lembranças da minha infância, pois quando eu tinha lá meus sete ou oito anos de idade, umas das brigas entre eu e meus irmãos era sobre quem iria moer no moinho manual o café que mamãe torrava. E antes de chegar à etapa de moer, a colheita dos grãos também era algo que a gente enquanto criança achava cansativo, porém tínhamos que fazer porque o “café iria perder”, minha mãe assim falava.
Lembro que tínhamos uns vinte pés de cafés, nós colhíamos, secávamos no terreiro e todos os dias guardávamos para não ter contato com o sereno. Então, minha mãe torrava e o sabor era único. Era diferente do que a gente comprava na venda da cidade. Talvez pelo processo artesanal, e junto dele o amor de mãe. Na minha região não era muito comum à produção de café, apenas para o consumo familiar.
Através do contato com as associadas da AMAGRI pude provar outros cafés além daquele que minha mãe torrava a noite, após ter realizado várias outras atividades ao longo do dia. Por meio do qual entendi algumas questões, das quais nunca tinha parado para pensar sobre o sabor do café. E hoje ao tomar um café é mais que sabor, é um saber. E claro, quando sei a procedência do grão, a atenção que foi dada na escolha do mesmo, bem como a forma que foi a torra, do trabalho que há por trás de tudo isso eu o saboreio ainda mais. Até porque eu compreendi que todo esse processo foi determinante para o tipo de bebida.
Assim, você já parou para pensar sobre qual o tipo de bebida do café que consome diariamente?
Uma das primeiras características que poderá definir a bebida se inicia na colheita do fruto maduro do café, no estágio cereja, uma vez que nessa fase apresenta todas as características desejáveis para produzir uma bebida de boa qualidade. Se o café for corretamente conduzido, aumenta a probabilidade de essas características serem preservadas na bebida.
Após seco, a escolha dos grãos também será determinante, uma vez que, alguns cafés têm apenas grãos totalmente intactos, enquanto outros incluem também grãos com alguns defeitos. Portanto, quanto maior a presença de grãos sem defeitos, mais alta é a categoria do café, consequentemente, isso interferirá no sabor e no aroma da bebida.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) são as entidades responsáveis pela classificação dessas bebidas, atribuindo notas de acordo com o nível de presença de grãos danificados no blend (mistura). Assim, existem quatro tipos de café.
As duas espécies de café mais comercializadas para consumo são:
Café Arábica (Coffea arabica) – origem: Etiópia
É a espécie de grãos utilizada para a fabricação de cafés gourmet e especiais. A bebida feita a partir desses grãos é considerada nobre por sua complexidade de aroma e sabor (doçura e acidez).
Café Robusta (Coffea canephora) – origem: Congo e Guiné
Esse é um grão um pouco mais amargo, e é utilizado na composição de blends. Além disso, por possuir mais substâncias solúveis (açúcares e cafeína), é bastante valorizado pela indústria de café instantâneo.
O ponto de torra também influenciará fortemente as características da bebida do café.
A moagem também pode fazer diferença no sabor da bebida. Caso compre um café já moído, fique atento (a) ao tamanho dos granulados do café mais adequados para cada tipo de preparo.
Então, chegamos à parte que mais gosto, beber o café!!! Você sabe quais os tipos de bebidas existem conforme o tipo de café?
Diante disso, os padrões de bebida do café arábica são:
A espécie Coffea canephora, também conhecida como robusta, possui características diferentes da espécie arábica. A variedade dessa espécie produzida comercialmente no Brasil é o Conilon, sendo seus padrões de bebida definidas como:
Portanto, todo esse processo definirá o preço final do café. Consumir um café de qualidade vai muito mais além do que ver um cafezal florido, e claro vale lembrar o ditado como “nem tudo são flores” há muito suor, trabalho e atenção com a lavoura independente de ser domingo ou feriado.
Na AMAGRI há produção de cafés artesanais que cumpre todas essas etapas para garantir seu sabor e aroma, sendo eles Café na Horta, Café Embira, Café do Campo e o Café Padre Donizete.
Além disso, esses cafés carregam histórias das famílias que por meio da agricultura familiar garante seu sustento e contribui para o desenvolvimento local. E ainda é possível ressaltar que esses núcleos familiares se tornam espelhos para outras famílias, como é o caso da Edilaine e do Luiz Carlos, que dividiram suas experiências sobre o setor cafeeiro e se tornaram um dos atores centrais do livro da autora Phyllis Johnson, The Triumph, Black Brazilians in Coffee. “O livro traz a história de famílias que estão encontrando novos caminhos e entrando no mercado global de cafés especiais. Johnson, uma afro-americana, sente que as conexões de sua família com a produção agrícola e a escravidão são o que lhe permitiu a chance não apenas de questionar, mas também de agir sobre a falta de engajamento dos negros brasileiros no café. O livro destaca as histórias e lutas de duas famílias que estão rompendo barreiras”.
E pode ser adquirido pelo link: https://www.bdimports.com/products/the-triumph-black-brazilians-in-coffee1?fbclid=IwAR3YZKN_qun_3i1hUa3_7X0jNx82GOJHReCxIZ66iTa8NDVz7UE-Gg—HY
por Jucilaine N S Wivaldo / Assistente Social Secretaria Municipal de Perdões-MG / Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Extensão – UFLA / Pesquisadora no Programa de Extensão Observatório de Políticas Públicas da Universidade Federal de Lavra