Doutrina Espírita: Breves reflexões sobre um fenômeno natural – a “morte”

29 de agosto de 2017 9:44 2212

Irmãos, imaginemos uma viagem ao futuro, após a nossa desencarnação. Como é que cada um de nós acredita que será a sua vida no além-túmulo? O tema pode inicialmente causar algum assombro, mas a sua prévia reflexão é necessária e pode evitar surpresas desagradáveis, angústias e dissabores no momento da importante e inevitável transição. Diante disso, perscrutemos:
– como será a nossa chegada no Plano Espiritual?
– chegaremos serenamente, com o coração tranqüilo por termos cumprindo integralmente a Lei Divina e por termos colaborado com a Obra de Deus como devíamos? Cumprimos os compromissos assumidos em nosso planejamento reencarnatório?
– ou chegaremos receosos, envergonhados por termos desperdiçado tantas oportunidades de trabalho edificante, de progresso moral, por termos nos perdido no torvelinho das sensações materiais, por termos cedido às pressões dos vícios, do orgulho e do egoísmo?
– teremos coragem de, com humildade, olhar nos olhos dos nossos benfeitores espirituais que, com amor, nos aguardam a chegada no Mundo Maior e agradecê-los por tanto apoio? Ou chegaremos cabisbaixos, desviando o olhar para os lados, como o filho leviano que teme a reprimenda dos pais após a prática de atos de irresponsabilidade?
– chegaremos à Pátria Espiritual, pelos próprios meios, equilibrados e em harmonia ou chegaremos carregados, desequilibrados, perturbados e dando trabalho aos nossos irmãos espirituais já tão atarefados com os seus afazeres diários?
– chegaremos na escuridão, tropeçando e caindo, maltrapilhos, ou chegaremos caminhando tranquilamente, iluminados por uma luz interior, emanada de nossos corações?
– ao chegar ao Plano Espiritual, poderemos colaborar, de imediato, com a Obra Divina ou seremos mais um fardo pesado para os nossos irmãos abnegados, trabalhadores dos Postos de Assistência e das Colônias Espirituais?
Precisamos refletir sobre isso; se ainda não pensamos, temos que começar a pensar urgentemente, a partir de agora; os anos que nos são concedidos aqui na Terra passam céleres e, quando menos se espera, estaremos todos de volta ao Mundo Espiritual, até porque essa vida é efêmera, fugaz, incerta – não sabemos o dia do nosso desenlace.
A partir do estudo atento das obras espíritas, percebemos que os motivos do estado de perturbação de muitos irmãos, verificados por ocasião do desenlace da alma de seu envoltório material – o corpo – são das mais variadas ordens, como por exemplo, i) o medo da morte, seja pela falta de certeza quanto à vida futura, seja pelo receio do desconhecido, seja pelo temor das terríveis penas eternas – apregoadas por algumas religiões; ii) outra, a pouca importância atribuída pelo indivíduo, enquanto encarnado, ao seu progresso espiritual e moral, empregando toda sua energia apenas nas questões materiais, apegando-se, em demasia, aos bens terrenos, os quais, depois, se constituem, muitas das vezes, em forte entrave à libertação da alma.
Na obra “O que é o Espiritismo”, Alan Kardec nos esclarece: “Os ensinamentos espíritas sobre as penas e gozos futuros fazem oposição ao materialismo. (…) Combatendo o materialismo, não atacamos os indivíduos, mas sim uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade, quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma chaga social, se vier a generalizar-se.”
A par disso, “(…) A crença de tudo acabar para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a extinção da vida corporal, leva-o a considerar como um disparate o sacrifício do seu bem-estar presente, em proveito de outrem (…). A caridade, a fraternidade, a moral, em suma, ficam sem base alguma, sem nenhuma razão de ser.” “(…) A negação do futuro, a simples dúvida sobre a outra vida, são os maiores estimulantes do egoísmo, origem da maioria dos males da Humanidade.”
Por outro lado,(…) “A crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens, estabelece entre eles uma solidariedade que não se quebra na tumba, desse modo, essa crença muda o curso das ideias.” “(…) É o que faz o Espiritismo, e o faz com êxito, porque fornece provas, e porque, decididamente, o homem antes quer ter a certeza de viver e poder ser feliz em um mundo melhor, para compensação das misérias deste mundo, do que a de morrer para sempre.”
No livro “A Gênese” (I, 37), Alan Kardec reforça essa idéia, dizendo que o ser humano: “Nada esperando depois da morte, nada obsta a que aumente os gozos do presente; se sofre, só tem a perspectiva do desespero e o nada como refúgio.” Lado outro, “Com a certeza do futuro, com a certeza de encontrar de novo aqueles a quem amou e com o temor de tornar a ver aqueles a quem ofendeu, todas as suas ideias mudam.”
O Espiritismo dando ao ser humano a certeza da vida futura e da pluralidade das existências faz mais pelo seu aperfeiçoamento moral do que todas as leis, do que todo o ordenamento jurídico existente, porque enquanto este tem o papel de prevenir, deter as suas más condutas ou até puni-las, aquele – o Espiritismo – tem o papel de transformá-lo, tornando-o um ser melhor a cada dia, aproximando-o de Deus.
Acerca das penas irremissíveis, perpétuas, incutidas por algumas religiões na mente de seus fieis, nos diz também o Nobre Codificador, no livro A Gênese, cap. I, item 33: “Se a razão repele, como incompatível com a bondade de Deus, a ideia das penas irremissíveis, perpétuas e absolutas, muitas vezes infligidas por uma única falta; a dos suplícios do inferno, que não podem ser minorados nem sequer pelo arrependimento mais ardente e mais sincero, a mesma razão se inclina diante dessa justiça distributiva e imparcial, que leva tudo em conta, que nunca fecha a porta ao arrependimento e estende constantemente a mão ao náufrago, em vez de o empurrar para o abismo”.
Diante desse quadro, entendidos os principais motivos de desequilíbrio espiritual, que produzem reflexos danosos no momento do desenlace, bem como realizada uma breve abordagem acerca de cada um deles à luz da Doutrina Espírita, cumpre agora trazer importantes orientações dos Espíritos elevados, de modo a facilitar a passagem do espírito por esse fenômeno natural que é a desencarnação. No livro Filosofia Espírita – ditado pelo Espírito Miramez – o Benfeitor Espiritual, sob a Divina Inspiração do Mestre Jesus, em comentários às questões 155 e 160 do Livro dos Espíritos, nos traça o roteiro seguro:
– Deves, se ainda não o fazes, passar a meditar na vida espiritual (estudá-la, compreendê-la, ter certeza de sua existência, enxergar a” morte” como fenômeno natural) e aprender a orar todos os dias, assim como te alimentas várias vezes, porque o alimento da alma vem pelas vias da oração e da renovação dos sentimentos. (Comentários ao LE/155)
– (…) deves preparar o teu próprio desenlace todos os dias, pela leitura espiritual, pelas orações, e, acima de tudo, pela reforma dos costumes em todos os momentos da tua existência. Quem prepara o próprio coração para essa hora inesperada, recebe o prêmio do bem-estar e a tranqüilidade fornecida pela esperança. (Comentários ao LE/155)
– A oração tem uma força poderosa no momento da desencarnação; ela é capaz de atrair almas iluminadas e, nesse ambiente, poder-se-á ajudar o desencarnante a se livrar do velho fardo e, por vezes, ser levado para lugares de recuperação espiritual. (Comentários ao LE/155)
– Não esperes, meu irmão, a morte chegar, para compreenderes o sentido da vida espiritual; começa hoje mesmo a te educares, a educar os teus impulsos inferiores, para que eles não sirvam de espinhos nos teus caminhos além do túmulo. (Comentários ao LE/155)
– Não percas tempo, meu irmão. Procura melhorar, melhorando-te por dentro, corrigindo faltas e aprimorando idéias, iluminando sentimentos e trabalhando no bem comum, para que, no momento da mudança da Terra para o mundo espiritual, sejas iluminado e possas encontrar todos os companheiros que já regressaram e que estão em condições festejar a tua vitória. (Comentários ao LE/160)
Diante de tais esclarecimentos e orientações que nos são constantemente prestados por Misericórdia Divina, sigamos confiantes, comprometidos com o nosso progresso moral e espiritual, com a prática do bem e da caridade, sem nada a temer quanto à vida futura e muito menos com relação ao momento em que os grilhões forem desatados e nos for restituída a verdadeira Liberdade.
Que o Mestre Jesus nos ilumine! Que assim seja!


Por Junior César Souto

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