ENTREVISTA: Os Intocáveis – Recordar é viver

16 de maio de 2017 9:59 3733

Há exatamente 50 anos – no dia 13 de maio de 1967 – com muita expectativa, emoção e estilo a estreia do conjunto musical “Os Intocáveis” marcaria para sempre a vida de seus componentes.
Nessa data, no Cacique Clube, na cidade de Perdões um Baile oferecido às mães, os componentes Osvaldo do Fórum, Lazinho (Replanta), Maria, Sérgio Papinha (Ivo), Bias, Roberto Rachid, Zé Rafael e Antônio(foto maior) presentearam as mães, suas famílias e amigos com sucessos da Jovem Guarda e dos Beatles.
Roberto tem um álbum, onde encadernou fotos e folhas manuscritas por ele mesmo, onde tem a descrição desde a estreia, todas as apresentações até a última, tudo datado com sua contabilidade (ver no site).
Essa preciosidade foi “xerocada” para seus amigos Sérgio e Lazinho.
O Conjunto foi idealizado em setembro de 1966 e os ensaios iniciaram no final de janeiro de 1967.
Componentes: Osvaldo – órgão e contrabaixo, Sérgio – bateria, Antônio – guitarra, José Rafael – piston, José Maria (Bias) – sax, Lázaro – ritmo, Roberto – ritmo e Maria – vocal.
Depois que Maria saiu do conjunto veio a Rosana; fizeram parte também do Conjunto, posteriormente -Alcides na guitarra e Edson no baixo.
A entrevista foi gravada com três dos componentes do conjunto ”Os Intocáveis”.
Roberto Rachid, 73 anos, filho de Rachid e Rosa; irmão de Pedro, José e Selem (in memorian), Rosemary, Cheine e Clarisse; casado com Fátima, pai de 3 filhos (Adriano, Roberto e Simone) e 5 netos.
Sérgio Luciano Pereira, conhecido como Sérgio Papinha(do Ivo); 70 anos, filho de Ivo Luciano de Pádua e Dorila de Pádua Pereira, casado com Helena Maria (Leninha); pai do Giuliano, Márcia, Fernando e Ana Paula. 7 netos.
Lázaro Rodrigues Vieira (Lazinho), filho de José Ibrahim Vieira e Zaira Rodrigues Vieira; casado com a Sônia; pai do Juninho, Luciano e Bráulio. 3 netos.
Lazinho e Sérgio moram em Perdões, Roberto mora na vizinha cidade de Lavras há 40 anos.
Vale destacar a organização de Roberto Rachid que registrou em folhas de caderno desde a idealização e os ensaios do conjunto, a estreia e as 41 apresentações em shows na cidade de Perdões – tanto no Cacique Clube como Colégio Estadual e finalmente descreveu a dissolução do conjunto. Durante a entrevista ficou evidente a emoção dos três ex-componentes do conjunto, que trazem todas as apresentações e carinho recebido do público guardadas em seus corações e suas memórias.
A entrevista foi num paraíso da natureza – Chácara Vó Dorila – do casal Sérgio e Leninha que após a entrevista nos serviram um delicioso café da tarde.

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Jornal VOZ: Roberto, passaram-se 50 anos desde a estreia do conjunto ”Os Intocáveis”.
O que você tem a dizer para nós sobre esse dia?
Roberto Rachid: Foi um marco na vida da gente. Cinquenta anos não são cinco. Todo encontro entre nós – eu, Sérgio e Lazinho, sempre tocamos no assunto, relembrando os velhos tempos.
Jornal VOZ: Como surgiu a ideia do Conjunto?
Roberto Rachid: O gosto pela música, na época da Jovem Guarda, onde ouvimos pelo rádio, nos parques de diversão, que se instalavam muito na cidade naquele tempo. Dali partiu a vontade de cantar e ter alguma coisa e nas cidades vizinhas estavam surgindo os conjuntos musicais, em Lavras principalmente.
Eu trabalhava no BEMGE com o Lazinho, Zé Rafael e Bias, tocávamos instrumentos também, piston e sax; o Sérgio tocava tarol na fanfarra do Ginásio, nós o procuramos para que ele tocasse bateria também. Ficamos sabendo do Oswaldo que entendia de música, dava aula de violão e veio tocar outros instrumentos no conjunto – guitarra, baixo, órgão, piston.
Eu e Lazinho ficávamos no ritmo, com o tempo aprendi bateria, aí eu tocava para o Sérgio descansar e dançar nos Bailes.
Através do Osvaldo vieram sua irmã cantora e seu irmão na guitarra.
Começamos os ensaios, muito ‘verdes’, ainda. No álbum está detalhado os nomes dos componentes, as datas e locais de todas as apresentações.
Jornal VOZ: Sérgio, qual foi a influência musical do conjunto ‘Os Intocáveis’?
Sérgio: Na realidade o que nos inspirou, foi o que o Roberto disse, ouvíamos e cantávamos as músicas do Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderlei Cardoso, Ronnie Von, Wanderléa, Vanusa, Martinha. Então isso era uma inspiração muito grande e que acabou dando certo.
Jornal VOZ: Lazinho, como foi que você entrou nesse Conjunto?
Lazinho: Eu tinha dois colegas de Banco, o Bias e o Zé Rafael, que estavam aprendendo música com o professor de música, Zé de Castro, que já faleceu.
Zé Rafael estava aprendendo pistom e o Zé Maria/Bias, aprendendo saxofone.
O Roberto então falou para mim: ‘Lazinho já que tem o Zé Rafael e o Bias aprendendo tocar os instrumentos e como temos vocação para a música, vamos formar um Conjunto’.
Aí, a ideia amadureceu, eu e o Roberto fomos para São Paulo comprar a guitarra e nesse meio tempo o Sérgio conosco lá, veio com a bateria. Depois vieram as meninas, cantoras.
Jornal VOZ: Até chegar nessa estreia no dia 13 de maio de 1967, cite outros fatos, uma coisa que você pode destacar, Roberto.
Roberto Rachid: A nossa amizade era e sempre foi muito grande, principalmente nós três, assim como o Bias e o Zé Rafael, todos vizinhos.
Naquele tempo não tinha lazer na cidade, então nos encontrávamos nos parques de diversão, oferecia música para as moças. A paixão pela música já é antiga mesmo. Lembro que quando estávamos interessados numa moça, a gente pagava e o locutor do parque anunciava antes da música “Alguém oferece para alguém. E esse alguém sabe quem”.
Assim juntamos a nossa amizade e o gosto pela música, até o ponto de formarmos o Conjunto.
Jornal VOZ: E você Sérgio, o que relembra do dia antes da estreia?
Sérgio: O desejo de estrear era intenso, mas o medo era maior de se apresentar em público, aí tomei muita água com açúcar.
Até então ninguém conhecia o Conjunto ”Os Intocáveis”, o seu uniforme – como estamos na foto – paletó vermelho, gravata, tendo como referência os Beatles.
Tenho uma lembrança muito gratificante referente à música ”A Praça” do Ronnie Von no dia da estreia. Eu cantei de cabeça baixa, com vergonha. Minha irmã estava no baile com o marido dela, dançando, batendo palma. No intervalo( a gente tocava entre 35 a 40 minutos para dar uma ‘descansadinha’, quando deu o primeiro intervalo, o Gomes – pai do Luismário chegou até nós e pediu para repetir a música. Quase enlouqueci de emoção. E depois outras pessoas pediram ‘bis’ para outras músicas.
O Clube Cacique nessa época ficava lotado, ele foi inaugurado em 1965. Lembro que todos os homens iam de terno e as moças iam de longo. E nesse baile tinha várias mães.
Jornal VOZ: Após a estreia, em outras apresentações, você viajaram para outras cidades?
Roberto Rachid: Viajamos para várias cidades, apesar da curta duração do Conjunto – 15/05/1967 a 31/12/1968.
O arquivo tem o nome de cada Baile e local, entre elas, Santo Antônio do Amparo, Bom Sucesso, Carmo da Mata, Oliveira, Nepomuceno, Campo Belo, Boa Esperança, Estrela do Indaí e Silvianópoles. Depois cada um tomou seu rumo – mudança de cidade, casamento.
Deixamos essas lembranças guardadas um certo tempo no baú.
De repente me brotou a ideia, após localizar o caderno que tinha as narrativas, isso há 20 anos. Aí fizemos esse Arquivo.
Na nossa estreia fizemos o baile por nossa conta. O Clube cedeu o espaço.
Posteriormente fizemos muitos bailes inesquecíveis no Ginásio de Perdões.

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Jornal VOZ: Vocês eram solteiros quando participaram desse Conjunto?
Roberto: O Sérgio começou a namorar durante o período do Conjunto.
Sérgio: Comecei a namorar dia 4 de junho de 1967 com minha esposa Leninha.
Lazinho: Eu estava começando a namorar a Dona Sônia, minha esposa.
Roberto: Eu comecei a namorar a minha esposa em 13 de dezembro de 1968. Pouco antes de acabar o Conjunto (31/12/1968).
Jornal VOZ: Como surgiu esse nome ”Os Intocáveis”?
Lazinho: Na época tinha um seriado policial na televisão que se chamava ”Os Intocáveis”, então a gente gostou daquele nome, colocando em votação numa reunião e todos aprovaram.
Jornal VOZ: O Baile de estreia em homenagem às mães iniciou e terminou em qual horário? Mais lembranças?
Roberto Rachid: Das 22h às 3h da manhã. Tinha também música só no piston e no sax, tudo da Jovem Guarda e dos Beatles.
Cantavam a Maria e o Sérgio, e com o passar do tempo o Sérgio deu um show. Ele cantava aquela música: ”…era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”, e nós fazíamos a parte do Coral, mas no final ele imitava o som da metralhadora. Era um sucesso.
Lazinho: Além dos cantores já citados, lembro que tocávamos as músicas dos Golden Boys, Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis.
Roberto Rachid: O Alcides tinha uma voz maravilhosa, ele imitava o Agnaldo Timóteo – O Grito. Na época era o auge.
Sérgio: Fomos tocar num Baile de Formatura em Estrela do Indaiá, terra do Zé Rafael, e tocamos quase o Baile todo sem intervalo, porque tinha um cidadão nesse baile, de vez em quando ele colocava o chapéu de palha na cabeça e quando a gente ia parar, ele gritava no meio do salão ”não para não, Zé, tá bão dimais”, aí a gente ‘empunhava’ os instrumentos e continuava sem intervalo.
Roberto Rachid: Nós lamentamos a ausência dos outros componentes, devido alguns morarem fora de Perdões, e Bias e Alcides que já não estão entre nós, mas permanecem em nossos corações e pensamentos.

 

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