HOMENAGEM A QUEM MARCOU A HISTÓRIA DE UMA CIDADE INTEIRA

28 de janeiro de 2024 13:32 641

Você costuma enxergar a vida como um copo meio cheio ou meio vazio?
A maioria de nós alterna em momentos de euforia, quando a água transborda, e em dias em que o copo está seco como um deserto. Porém, há aqueles que passam por esta Terra com uma capacidade de resistência que não só faz deles fortes em situações difíceis, como também capazes de ver o copo cheio durante todo o tempo.
Revelton era uma dessas pessoas. Em Cana Verde, cidade que era morada de seus dias, não há quem não o conhecesse. Entre os comerciantes, era uma espécie de guardião. Ficava ali andando pela praça central, cumprimentando os passantes e de olho em todos os acontecimentos da cidade que tanto amava. Mal humor só quando o Cruzeiro perdia.
Revelton olhou para sua vida e decidiu que um diagnóstico não o definiria. Escolheu ser protagonista de sua história e através dela fazer parte da vida de uma cidade toda. Nos enterros, fazia questão de carregar a coroa. Sua fé, presente nas orações que sempre fazia em momentos marcantes, o acompanhava pelas ruas, quando saia de terno em direção ao culto de domingo. Sempre sorrindo. Sempre amável com quem passasse por ele.
Nas festas típicas da cidade, estava presente, atuando como segurança e vestido de acordo. Nos jogos importantes do time do coração, não abria mão do manto celeste. Em muitas ocasiões, saia pelas ruas tocando a sanfona do jeito que achava que devia fazer.
Não importava o que os outros achavam. Importava a alegria que carregava dentro de si e que precisava transbordar, fosse preenchendo as ruas com música, fosse conversando com todos em frente aos comércios, fosse trabalhando nos cargos que ele mesmo se dava.
Não que a vida não seja feita de fatos, eventos que a gente não controla e dados concretos, mas a existência de alguém como Revelton é a prova viva de que ela também é feita de sonhos e da capacidade de enxergar o copo cheio. Aprendi com ele a importância de decidir como preencher os dias. Porque o que dá sentido à vida é mais potente do que a frieza da realidade.
Para Revelton, o sentido era ser presente na rotina da sua cidade. Era ser o protagonista da sua história. E assim ele reinventou a vida.
Quantos de nós tem essa coragem?
Em 26 de dezembro de 2023, ele partiu e a sensação de “estranheza” chegou como uma névoa, encobrindo a cidade toda. Como assim ele não vai mais estar na padaria todas as manhãs? Quer dizer que agora a gente vai andar na praça e ele não vai abanar a mão? Nem estará entre os segurança nas festas?
Desde aquele dia, a memória coletiva de quem dividiu o mesmo tempo e espaço com ele sofreu uma rachadura. O resultado justo diante daquilo que Revelton construiu durante a vida toda: sua importância para a cidade que amava, segue em forma da falta que sua presença faz.
Porque a gente só sente falta do que marcou.
Gosto de imaginá-lo agora num lugar bonito, com o boné que ele gostava e com a sanfona, rindo e reinventando mais uma vez o sentido de tudo.
Enquanto aqui, seguimos tendo a certeza de que sua história será lembrada muito depois de nós e que Cana Verde nunca mais será a mesma sem ele.

Em memória de Revelton Moreira da Silva

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