Nomes têm um poder especial, uma força que vai além de suas letras. Desde pequeno, sempre fui fascinado por eles, talvez devido ao fato de minha própria graça carregar uma sonoridade específica junto a uma intrigante combinação de sílabas. Certo é que o conteúdo do registro civil designativo da pessoa carrega heranças, tradições, às vezes sonhos ou, simplesmente, o mero lirismo contido na palavra Lorrane ou Yasmin. Afinal, o que nos define mais do que um conjunto de letras que, de tão repetido, se torna a extensão de quem somos?
Outro dia mesmo, aqui em Perdões, numa casa repleta de quitandas (aliás, o substantivo quitanda tem origem no termo quimbundo kitanda, que significa feira, venda ou tabuleiro de doces) me embananei com um típico caso mineiro: o dilema entre escolher uma dentre diversas guloseimas. Eu perguntava à paciente atendente: O que é isso? É de quê? E este, como se chama? Lá pela quinta alternativa, BUM, um nome incomum me foi revelado: João Deitado! E mais: até hoje não se sabe se o batismo do doce fora uma jocosa homenagem a algum indivíduo, o qual, vá saber, curtia uma cama ou, de repente, apenas tinha um andar meio arrastado. Porém o nome pegou feito piolho em creche!
O tal João Deitado, composto de fubá e melado de cana, uma vez assado é enrolado em uma folha de bananeira. Talvez seja o seu modo de apresentar-se aos olhos gulosos, à semelhança de um moreno dorminhoco, a razão de sua alcunha. Talvez, não! Fato é que casa bem com uma honesta xícara de café.
A busca por nomes – de pessoas, mascotes, plantas, coisas, logradouros, ideias – se tornou, confesso, um passatempo para mim. Às vezes me flagro matutando: Por que chuchu e não chachá? Qual o porquê do nome daquela praça ou deste bairro?
Bem, chegou a hora de abrir mais o jogo. Urdi os parágrafos acima a fim de preparar o terreno para contextualizar um impasse: esta coluna precisa de um nome. Após listas e listas, ainda não encontrei a luz. Gostaria de algo que traduzisse o movimento da escrita, seu fluxo, algo que refletisse a vida cotidiana, as histórias de nossa gente e, simultaneamente, o prazer de observar o mundo com lentes curiosas. Títulos como A voz da esquina, O zelador dos eventos, Achados & perdidos foram considerados. Até algo mais ousado, como Aerosol — algo que se espalha, que alcança cantos inesperados, contudo a busca continua.
Em tempo, agradeço o Jornal Voz por intitular este espaço de “Coluna do Max”, todavia nós sabemos que a crônica não pertence a quem a escreve, mas a seus destinatários.
Pode ser que a denominação da coluna ainda não tenha raiado, porque ela, à semelhança do querido João Deitado, precisa de tempo para encontrar seu lugar. E você, leitor, já refletiu sobre o que seu nome diz sobre você? Ou o que ele oculta? Tem alguma sugestão de como intitularemos esta coluna? Nomes, às vezes, se parecem com ruas sem placas: dependemos das histórias circundantes para saber onde estamos.
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por Maxmiller Hübner