Jogos Online: Entretenimento ou Armadilha?

8 de julho de 2025 12:02 102

O crescimento dos jogos online que envolvem apostas em dinheiro tem se tornado um problema alarmante para a saúde mental e financeira de milhares de brasileiros. O que começa como uma distração inofensiva, muitas vezes se transforma em vício, levando ao endividamento, ansiedade, depressão e isolamento social.
Com promessas de ganhos fáceis e a sensação constante de estar “quase ganhando”, esses jogos exploram vulnerabilidades psicológicas e atingem principalmente jovens e pessoas em situação financeira delicada.
É urgente que se discuta a regulamentação, a prevenção e o apoio às vítimas desse novo tipo de dependência digital que, silenciosamente, destrói vidas.
O avanço dos jogos online que envolvem dinheiro tem provocado uma crise silenciosa, afetando pessoas de todas as idades e classes sociais. Não se trata mais apenas de jovens.
O fenômeno dos jogos online com dinheiro — sejam apostas esportivas ou cassinos digitais — tornou-se uma crise de saúde pública e econômica no Brasil. Segundo o Banco Central, os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês nessas plataformas.
Estima-se que 2 milhões de pessoas já são viciadas, e 52 milhões apostaram ao menos uma vez.
O impacto é ainda mais grave entre populações vulneráveis: cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família usaram o auxílio para apostar — totalizando quase US$ 500 milhões só em agosto. A parcela da renda comprometida é alta: 63 % dos apostadores relatam que isso impactou seu orçamento.
Profissionais de saúde mental comparam o vício em apostas a dependências químicas. A liberação constante de dopamina, associada ao sistema de recompensa do cérebro, exige apostas cada vez maiores — fenômeno semelhante a uma “tolerância” química.
Depoimentos reais dizem tudo:
“Já fiz uma aposta de R$ 250 e ganhei R$ 6 000. Mas no longo prazo isso tudo foi devolvido… hoje totalizo mais de R$ 30 000 de prejuízo” — relato no Reddit de apostador online
“Perdi meu salário em um dia e meio… a sensação de euforia vinha com cada ganho, mas em seguida vinha o desastre” — Gustavo Martins, 28 anos, mineiro.
Além dos jovens, adultos e idosos — inclusive aqueles que recebem benefícios sociais — estão sendo afetados. Um beneficiário aposentado narrou:
“Perdi mais de R$ 100 000 em apostas… era o dinheiro da aposentadoria e fui depender de empréstimos e adiantamentos”
As consequências incluem endividamento extremo, depressão, ansiedade, isolamento social e, em tragédias, ideias suicidas — chegando a uma taxa de até 20 % de tentativas de suicídio entre ludopatas
Urgência de Ação
Esse quadro impõe três frentes de ação imediata:
Regulamentação eficaz: bloquear operadores ilegais, proibir publicidade direcionada a vulneráveis e limitar métodos de pagamento.
Educação financeira e campanhas de alerta: mostrar que apostas não são renda complementar, e sim caminho para prejuízo.
Apoio e tratamento especializado: expansão de CAPS e grupos como Jogadores Anônimos, integrados com terapia cognitivo-comportamental e apoio familiar
Conclusão
Não se trata apenas de um entretenimento fácil — é um problema que consome vidas, sonhos e dignidade, especialmente entre os mais vulneráveis. É hora de o Brasil encarar os jogos com dinheiro como uma questão de saúde pública, e agir antes que novas tragédias sejam inevitáveis.

Sandro Nery Lehmkuhl

Compartilhe este artigo