Relatos de mães que tiveram seus filhos em outras cidades e outras que tiveram que pagar para terem seus filhos em Perdões
Mães que queriam e mães que querem ter seus filhos na Santa Casa de Perdões sem que para isso precisem desembolsar uma quantia em dinheiro que está além de suas posses, ou se deslocarem para outra cidade são um dos destaques nessa edição dedicada às Mães.
Na edição de 29 de abril a reportagem do Jornal VOZ entrou em contato com o secretário da Saúde de Perdões, Jeferson Almeida/Jefinho e com o provedor da Santa Casa, Aderlei José Freire, após mães grávidas questionarem: Queremos um(a) obstetra para nossa cidade.
A reportagem VOZ entrou em contato e foi até essas mães que não tiveram a assistência gratuita, ou que precisaram ser encaminhadas para outra cidade. As entrevistas foram gravadas.
Esperamos que após o relato dessas mães, o problema seja solucionado para que as futuras mães possam ter seus filhos no conforto do hospital da sua cidade, ou sem precisar desembolsar valores fora da sua realidade.
Todas as mães fizeram questão de elogiar e reconhecer os trabalhos das obstetras que as atenderam.
Graziele Cristian Aparecida dos Santos, moradora do Bairro Chácara Bela Vista, mãe de 3 filhos, está com um bebê, o Adriano, que nasceu no último dia 17 de março, pretendia ter seu filho na Santa Casa de Perdões, paga o carnê.
E ela nos relata o que ocorreu.
“Fui para internar e eles tentaram dar entrada em Oliveira, porque eu ia às 7 horas da manhã para dar entrada tudo direitinho, mas como eu não tinha a semana “certa” que a cidade de Oliveira pedia (sendo que eu tinha toda a documentação para fazer a laqueadura, pois eu teria o 3º filho).
A doutora falou que meu parto era de alto risco porque eu tenho aderência, e porque eu tenho uma cesárea recente – há 3 anos, então ela falou que ia colocar com 38 semanas. Tenho a documentação autorizada pela Dra. Talita que é muito atenciosa. Tanto é que o médico que fez a minha cesariana em Lavras, disse que foi muito trabalhosa.
A doutora me encaminhou para lá.
No dia 15 de março, quarta-feira, elas da Santa Casa me disseram que ‘semana que vem, você volta aqui, e nós tentamos encaminhar você para lá de novo, mas se você vê que não pode esperar, você corre atrás, vai conversar com o Jefinho’.
Fui conversar com o secretário de Saúde e ele disse que estava para fechar acordo com a Santa Casa de Lavras. Só que não fechou acordo. E no dia do desentendimento (15/03), a doutora ligou para ele, para saber se eu teria meu filho aqui em Perdões ou não. Ele falou que não lembrava de mim. E no dia que fui lá, tinha muitas colegas minhas que testemunharam que estive lá.
Aqui em Perdões deixa muito a desejar, porque a maternidade de Lavras é super bem montada, as enfermeiras são dedicadas à maternidade. Espero que Perdões se capacite mais, porque não somos nós quem temos que pagar, é o SUS quem paga. Perdões podia ser referência no Sul de Minas porque tem toda estrutura para isso. Falta dedicação de funcionários, secretários, administradores”, concluiu Graziele que teve seus dois primeiros filhos aqui em Perdões.
Do Bairro Chácara Bela Vista nossa reportagem prosseguiu para a Comunidade Retiro dos Pimenta onde a entrevistada Rodilaine Olinda Machado nos aguardava.
Rodilaine já tem uma filha e seu segundo filho – Felipe – nasceu no último dia 13 de março.
“Pago carnê na Santa Casa e no final da gestação deu uns problemas, o bebê estava para nascer antes da hora, meu esposo ficou com medo de ir para outra cidade e não dar tempo. Não tinha condições de ser parto normal, tinha que ser cesárea porque o bebê estava sentado. Aí meu marido resolveu pagar para a doutora o valor de R$2.300,00.
Há dez anos tive minha primeira filha, pagava o carnê e não precisei pagar mais nada. Eu pagava o preço justo que era R$15,00 e eu tinha direito a tudo, aos exames, ultrassom.
E dessa vez quando fui pagar foi na intenção disso – o preço familiar que seria R$25,00. E quando fui pagar para ter o acompanhamento, o valor já era R$50,00, pois era um preço diferenciado por ser gestante. Questionei a moça por isso, aí ela falou que era porque gestante usava… Achei justo, porque realmente, gestante usa muito mais que uma família, pois havia mês que eu ia ao médico três vezes.
Eu pensava que se eu pagasse os R$50,00 teria direito a tudo e não foi assim. Tive que pagar ultrassom, tive que pagar todos os exames. Não tive nenhum exame pelo SUS, nem de sangue normal, não podia. Fui perguntar o porquê na Secretaria de Saúde, porque eu não poderia fazer os exames pelo SUS e a moça me falou que quem paga o carnê da Santa Casa, tem condições de pagar os exames. Só que era uma diferença muito grande – eu pagava o carnê não porque eu tinha condições, porque era necessidade, queria ter um acompanhamento melhor.
Queria ficar no conforto do quarto, minha família tivesse a oportunidade de ir visitar a hora que pudesse, porque o carnê nos dá essa oportunidade. E não foi bem assim. Tive que pagar tudo. Foi um susto, eu não tinha condições. Cada mês tinha que separar R$300,00 por conta disso. No mês que não tinha ultrassom, exames, gastava no mínimo R$150,00. E no final ainda tive que pagar o parto – R$2.300,00. Graças a Deus, Ele encaminhou tudo certinho, mesmo assim achei um absurdo, porque todo mundo tem que ter o direito, se tem uma Secretaria de Saúde, se tem médico pelo SUS – todo mundo merece e tem o direito de ter uma médica muito boa. A médica que eu paguei, ela é muito boa, mas eu acho sim, que a nossa Prefeitura tem condição de pagar a ela para que atenda a todos igual. E não levar o susto que eu levei e na última semana pagar esse valor.
A gente sabe que na outra cidade vai ser bem atendida, mas se a pessoa não tem família na outra cidade, fica insegura.
É um direito nosso ter nosso filho aqui em Perdões. A gente paga os impostos para isso.
Temos o direito de ser bem atendidas, ter o parto na tranquilidade da nossa cidade e sem ter que pagar um dinheiro que a gente não tem.
Espero que essa entrevista ajude as futuras mães a ter um pré- natal bom, com uma médica competente, que não precise passar por um clínico geral estando grávida, porque houve isso na época em que eu estava grávida do meu menino, vi grávidas serem atendidas por clínicos geral, porque não tinha obstetra, sendo que tem uma boa lá, que eles podem fazer um acordo com ela. Espero que elas possam ter seus filhos na Santa Casa porque tem bloco cirúrgico, tem anestesista, tem pediatra bom, médicos e enfermeiros competentes para isso. O que nos falta mesmo é poder ter nosso filho na Santa Casa sem custo para nós’’, afirma Rodilaine.
Gisele Carvalho Oliveira – Bairro Chácara Bela Vista é mãe de duas filhas, uma de 9 anos e a outra que vai fazer 3 anos, ambas nasceram pelas mãos da Dra.Vera na Santa Casa de Perdões. Pagava o carnezinho e não teve gasto com o parto.
Gisele está no seu terceiro mês e seu parto está previsto para novembro, continua pagando o carnê.
‘‘Procurei a Dra Vera, mas só atende no Posto, então pagar o carnezinho para mim, não adianta nada. E agora para ganhar o bebê, tem que ir para outra cidade.
Como quero ter meu bebê aqui, terei que pagar. Gostaria muito de ter esse filho, assim como foi com as meninas – sem custo nenhum.
Não sei de onde vou tirar esse dinheiro. Como é o terceiro filho, será cesárea e terei que dar um jeito.
Tem que voltar como era antes pelo SUS, tudo certinho, bom atendimento, enfermeiras boas e é por isso que não quero ir para outra cidade, porque aqui elas me atendem bem.
Precisamos de obstetra tanto para acompanhamento, como em caso de sentir alguma coisa. A Dra.Vera vem toda terça, mas e se eu precisar ir lá na Santa Casa?
A gente pode sentir alguma coisa e como fica? Não que o clínico não vá resolver, mas é diferente. Olhem por nós!’’, desabafa Gisele.
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Entrevistamos outras mães sobre essa questão, devido ao espaço limitado estaremos publicando em outra edição.