Marcelo Barroco, músico com formação clássica e que enveredou para a MPB – Música Popular Brasileira. Nasceu em São Paulo no Bairro da Saúde, mas sempre vinha para Perdões durante suas férias escolares (4 meses a cada ano).
Considera-se um cidadão perdoense, pois sua família também é daqui e muitos amigos da infância e juventude permanecem em contato até hoje através da música.
Marcelo é filho de Altino Barroco e Maria Madalena Barroco (ambos in memorian); irmão de Luciano Barroco e Carlos Frederico Barroco (ambos in memorian) e Débora Leite Campelo/Dedé; marido da Fátima, pai da Maynara e do Murillo.
Veio morar em Perdões com sua esposa e seus dois filhos no dia 10 de junho desse ano – veio de mala e cuia – como ele mesmo disse à nossa reportagem.
Marcelo Barroco que já se apresentou em grandes eventos, clubes e bares de São Paulo, agora em Perdões tem se apresentado com maestria no Bar do Jacinto – Rua do Cruzeiro e no Bar do Juarez – Praça da Matriz, onde tem seu público fiel e é muito aplaudido.
Dos pais traz entre tantas coisas, o compromisso com a franqueza e a autenticidade.
A entrevista foi gravada na sala de sua residência à Rua do Cruzeiro.
Inteligente e perspicaz, Marcelo Barroco fala da música com amor e paixão.
Jornal VOZ: Quando você descobriu a vocação para a música?
Marcelo Barroco: Foi aqui em Perdões com o meu avó – Francisco Thomaz da Silva – seu Chico ferreiro. Ele tinha um violão que guardava em cima do guarda roupa. Não conseguia tocar porque tinha problema nas mãos, pois mexia muito com material de ferragem.
Eu pegava esse violão escondido, até o dia em que ele flagrou porque não consegui colocar na posição certa.
Então ele me perguntou se eu gostava e queria o violão – respondi que sim.
Eu passava minhas férias escolares aqui em Perdões, aí quando estava voltando para São Paulo, ele me presenteou com o violão. Fiquei tão feliz que não conseguia me conter. Cheguei na rodoviária me achando o cara mais importante do planeta (eu tinha cerca de 07 anos).
Após dois meses o meu pai me colocou no Conservatório e lá fiquei por 12 anos.
Veja como Deus é maravilhoso! Quem foi meu professor de violão? Um dos maiores violonistas que conheci na minha vida – Sr.José Silva – natural de Campo Belo/MG.
Em São Paulo fui encontrar alguém de Campo Belo – José Silva, que era dono da empresa que a Fátima trabalhava e dava aula de datilografia, mas lá nessa época, nunca a vi.
Aprendi violão clássico, música, partitura e ele era uma pessoa extremamente rígida. E comigo controlava mais porque sabia do meu vínculo com Perdões – minha família de Perdões, ele de Campo Belo.
Eu só não aprendi a tocar todos os instrumentos e não fui mais longe ainda, porque enveredei para a MPB, e lá era um Conservatório de música clássica – Bach, Chopin, peças clássicas e eu era da noite.
Comecei a interagir com muitos músicos e aí comecei a me destacar por ser muito dinâmico – com essa formação clássica, isso me dava muitas vantagens, pois a música clássica é completa.
Jornal VOZ: Mesmo tendo toda essa bagagem musical, você trabalhou em outros setores?
Marcelo Barroco: Eu nunca tive como carro chefe a música, porque para realizar os meus sonhos, era necessário outra atividade.
Jornal VOZ: Onde você já trabalhou?
Marcelo Barroco: Comecei trabalhando no Banco Real como escriturário – lá fiquei muitos anos, saí do Banco e fui para o Exército, após servir durante um ano, voltei para o Banco, tecnicamente melhorei muito, continuei estudando.
Do Banco, fui chamado para trabalhar numa empresa que era coligada com o Metrô – eles precisavam de um profissional com o meu perfil. O Fred, meu irmão, quem me indicou.
De lá, que era a Transbraçal, sempre estive em cargo de gestão de mão de obras e serviços.
Jornal VOZ: Quando seus pais vieram morar aqui em Perdões?
Marcelo Barroco: Creio que eles tenham vindo para cá entre 1987 e 1988. Eu continuei em São Paulo, era para ter vindo, mas o pai disse que não tinha campo de trabalho, nem para mim, e nem para o Fred. Então veio ele, a mãe e o Luciano.
Jornal VOZ: Mesmo trabalhando nessas empresas você continuou cantando e tocando:
Marcelo Barroco: Continuei, porque a música fazia parte, 95% das minhas amizades tem alguém com música.
O lado profissional de gestor, não me trouxe amizades, a música sim.
Quem ler essa entrevista, verificará que me conheceu através da música. Música é tudo!
Jornal VOZ: Então a sua ligação com Perdões vem da música?
Marcelo Barroco: Primeiro é o envolvimento familiar – a formação como cidadão perdoense. Cresci junto com as cabeças de 50 a 60 anos, ou seja, como cidadão e como amigo.
Eu vinha todos os anos e ficava durante 4 meses, o período das férias. Vinha no carnaval, nos feriados e quando comecei a trabalhar (além de trabalhar com música), vinha sempre de ônibus e depois que tirei a minha habilitação, passei a vir com o meu carro.
Jornal VOZ: Marcelo, constatamos que você tem a sua forma peculiar de cantar. Quando iniciou como músico, você tinha alguma referência?
Marcelo Barroco: Tive como influência de artista, Legião Urbana, Milton Nascimento, e por questões perdoenses mesmo, aqui, o pessoal da Dona Rosinha, Deinho, e mais um monte de bons músicos que exigiam da gente uma qualidade diferente, o meu celeiro era aqui.
A música mineira é uma das melhores músicas do planeta. Emílio Victtor, Tadeu Franco, uma musicalidade rica demais – eu pegava tudo isso, misturava, levava para São Paulo aí quando eu tocava os ‘caras’ falavam “Nossa Senhora, você vai para lá e volta cada vez melhor”. Era essa miscelânea – você tem uma qualidade de voz que é um dom de Deus e você só aprimora. A técnica você a tem por formação, uma vez que tive a oportunidade de estudar e pegar os melhores: João Bosco, Chico Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins, Paulinho Pedra Azul.
Jornal VOZ: Diante do quadro político como você vê hoje a música no Brasil?
Marcelo Barroco: Eu participei de uma enquete da Revista Veja, até postei no whatsApp para o pessoal daqui e para o pessoal de São Paulo – isso é uma opinião minha e também de 90% da população – nos últimos 20 anos nós passamos por um processo de ”emburralização”. Sabe o que é isso? É Gugu e Faustão. Isso é acadêmico, ambos funcionando na cabecinha do povo.
O que aconteceu com a nossa música? Todos os estilos musicais devem ser respeitados. Todos! Escuto tudo – rap, soul, funk. Gosto da Anita, gosto da sua musicalidade, ela é uma artista completa que vai explodir’; gosto da Ivete Sangalo, Alcione.
O que aconteceu foi que a ‘emburralização’ chegou na televisão através do padrão Globo e do padrão SBT, onde se prima por abreviar a inteligência.
No quadro político, você pega todo esse processo de banalizar a inteligência, não desvalorizando nenhuma categoria musical, por exemplo, você pega um funk carioca com letras pornográficas, onde o rap norte americano é muito mais sujo que o nosso funk, mas são músicas de protesto.
A música de protesto tem que ser pelo social, pelo bem da sociedade e não de maneira estapafúrdia, fazendo aquele barulho danado e não passando mensagem nenhuma.
Sobraram os músicos que nasceram entre 1940 a 1945, tem Lenine que é um professor; o Ed Motta, e o Lado B que só os Youtubers que conhecem – a gente que tem acesso à informação e vai conhecer, antes de chegar em Maria Gadú, Ana Carolina, tem muita gente boa.
Eu escuto tudo, desde música chinesa e tudo o que for bom.
Coloco isso na minha música, faço muita releitura.
A mídia televisiva acabou com o cérebro do povo no sentido de se educar, no sentido de agregar valor. Tanto politizou por um lado sinistro, como politizou por um lado bom…
Temos talentos dentro de Perdões – que eu não menosprezo o meu talento – mas tem talento dentro dessa cidade que já era para ter ganhado o mundo.
Eu ver o cara tocar num jardim com tamanha musicalidade, sendo que estudei anos e não faço a metade do que ele faz. Mas o que acontece? Ele vai se fechando porque não tem campo.
Hoje você tem que ser agraciado com a sorte e necessariamente, não precisa ter talento.
Jornal VOZ: E a sua agenda como está atualmente?
Marcelo Barroco: Por enquanto estou restrito porque estou ajudando na reforma da casa. Estou fazendo dois shows nos finais de semana, vou decidir se ficarei só com a música ou arrumarei outra atividade, dentro do meu currículo profissional, além de músico, que é a área de administração. O que não podemos é parar.
Em São Paulo eu tinha 4 meses de agenda fechada, o que me dava um conforto financeiro, mas vim para Perdões para trabalhar com a realidade da cidade e ter qualidade de vida.
Jornal VOZ: Música é missão ou vocação?
Marcelo Barroco: Missão e vocação. Tem que ser as duas coisas. Através da música que você consegue unir as pessoas. Acredito nessa propriedade da música: unir e reunir. As pessoas passam a prestar atenção no que você fala através da música.