Melhoramento no cultivo do Alecrim-do-Campo gera aumento na produção e qualidade da própolis verde em Minas Gerais
Quem imaginaria que uma planta tratada por muito tempo como invasora de pastagem seria a matéria-prima de um medicamento utilizado no tratamento de câncer no Japão? Essa é a Alecrim-do-Campo, nativa do Cerrado mineiro e base para a produção da própolis verde. O uso medicinal de produtos naturais como esse data da Antiguidade. Gregos e romanos aplicavam seu extrato para curar lesões na pele enquanto os egípcios o utilizavam no processo de mumificação para conservar cadáveres. Na prática, o que esses povos faziam nada mais era que repetir um comportamento natural das abelhas.
A própolis é uma resina produzida por esses insetos para proteger a colméia, que pode abrigar 60 mil insetos. Além de coletar pólen, néctar e outros substratos necessários para preparar o mel consumido na sua alimentação, algumas abelhas operárias são destacadas para construir e cuidar da manutenção de seu habitat. A própolis é utilizada nesse processo: ela veda e protege a colmeia, matando fungos e bactérias. Também serve para embalsamar insetos capturados, evitando que eles contaminem o ambiente.
A diferença da própolis verde vem justamente do Alecrim-do-Campo. O composto produzido com base em uma resina que as abelhas coletam dessa espécie de arbusto natural do Alto São Francisco, chamada cientificamente de Baccharis dracunculifolia e popularmente como vassourinha do campo, apresenta propriedades medicinais mais potentes. Isso se deve às substâncias antimicrobianas, a exemplo do Artepelin C, que, segundo estudos científicos, estimula o sistema imunológico, auxiliando na inibição do crescimento de células de tumores e no aumento do número de linfócitos no organismo.
No Japão, país que mais importa própolis verde do Brasil, um grama do Artepelin C isolado pode custar R$ 50 mil. Por aqui, é permitida apenas a comercialização de compostos com baixa dosagem, que, por essa razão, não são considerados medicamento, mas, sim, suplemento alimentar, muito utilizado para fortalecer o organismo no tratamento de gripes, resfriados, dores de garganta e doenças respiratórias, uma vez que têm propriedades bronco dilatadoras e de combate a inflamações.
Minas Gerais tem as características de solo e clima propícias para o cultivo do Alecrim-do-Campo e da própolis verde – 80% da produção do Brasil são provenientes do estado. Tendo em vista esse potencial, criadores de abelhas do Centro-Oeste se uniram para formar a Associação dos Apicultores Produtores de Própolis Verde do Alto do Rio São Francisco (APVASF) e, assim, fomentar a produção de própolis verde na região, melhorando a qualidade do produto e diminuindo custos por meio de uma apicultura mais sustentável e lucrativa. Com esse objetivo nasceu, em 2012, o Projeto de produção de própolis verde no Alto São Francisco. Uma das ações do projeto, por meio do Sebraetec, é o estudo do alecrim. “É importante investir na profissionalização da atividade para conseguirmos maior rentabilidade. Quanto mais verde é a própolis, maior é a concentração de Artepelin C e mais valorizado é o produto. E isso depende diretamente da capacitação dos produtores e da qualidade do Alecrim-do-Campo”, explica a analista Fabiana Rocha.
A instituição conta hoje com 13 associados das cidades de Bambuí, Arcos, Candeias, Campos Altos, Córrego Dantas, Formiga, Iguatama, Luz, Medeiros, Pimenta, Guimarânia e Tapiraí. Eles participam de um trabalho direcionado à profissionalização dos apicultores e à adequação de produção e comercialização às exigências do mercado. “Desde que foi fundada, a associação procura se aproximar de pesquisadores e órgãos de fomento ao desenvolvimento de tecnologias e atividades agrícolas para dar vazão à demanda da própolis na região, bem como contribuir para a capacitação dos apicultores”, esclarece Fabiana Rocha. Atualmente, o Centro-oeste mineiro produz 60 toneladas de própolis verde por ano, das quais 70% são destinados à exportação.
Assessoria de