NO TEMPO DE TIÃO CAFÉ

7 de abril de 2025 12:18 293

Recentemente me vi aperreado com a simples tarefa de marcar uma pelada; atividade simples, mas nada próspera! Bom, “pelada”, esse termo jocoso, significa uma reunião de atletas amadores para jogar futebol, na qual os peladeiros se esforçam a fim de praticarem o amado esporte, contra todos os reveses e impasses do cotidiano. Trem lindo! No tempo em que Don Don jogava no Andaraí, como a música fala, nossa vida era mais simples de viver, não tinha tanto miserê, nem tinha tanto tititi! Mas isso era lá no tempo de Don Don. Hoje, a realidade é outra. Temos grupos de Whatsapp, telefone celular, redes sociais, filmes e séries no serviço de streaming, o diabo! Driblar todos esses atrativos, fora as naturais exigências do dia a dia, torna marcar uma trivial pelada algo quase impossível. Antes, bastava a vontade de jogar bola para reunir aficionados; o futebol era um compromisso natural, inadiável. Agora, tal empreitada exige esforço hercúleo, planejamento e muita, mas muita, paciência. Enfim, todo esse moderno dispêndio energético, me faz mergulhar nas nostálgicas águas da época em que o bendito Don Don jogava lá, no Andaraí.
Viajando pelas profundezas do passado, me pus a pensar nas pessoas, sim, em todas elas. Gente pode alterar quase tudo: a cara, a família, a namorada, a religião. Mas tem uma coisinha que não se pode mudar: a paixão. E o futebol para mim é uma paixão. Como não se encantar? Estádio lotado, o verde da grama, competição, imprevisibilidade, sem mencionar uma coleção de lembranças afetivas. Um gol tem o poder de suspender inúmeras chatices da rotina: os boletos, os flanelinhas, a falta de grana, as picuinhas domésticas, dir-se-ia até dez mandamentos.
Na atual e delicada conjuntura do futebol brasileiro, quase perdendo as esperanças, eis que evoco uma figurinha ilustre do cenário esportivo de Perdões: o indelével Tião Café! Esse perdoense, colega cronista do Jornal Voz, comentarista, jornalista, amante da bola, contador de causos fora treinador durante uma década do Independente Esporte Clube. Segundo me revelou, ele não era um técnico de araque! Imponente (de terno e tudo), Tião Café não se preocupava apenas com os aspectos táticos do jogo, mas também com a formação de seus jogadores como indivíduos. Seu estilo de direção era simples, porém eficaz, sempre vigiando a motivação e a confiança do time. Com extrema humildade, ele diz ser apenas um “chutador” de bola, confessando que, ao anunciarem sua posição de treinador do Independente, “tremeu nas bases”.
O ano era 1992 e o time do Independente Esporte Clube chegava à final do Campeonato Sul Mineiro contra o Minas de Boa Esperança. No jogo de ida, jogando fora por ter a melhor campanha, uma vitória por 1 a 0 garantira ao Independente a vantagem. Porém, ao jogar em casa, a escrete perdoense fora derrotada por 3 a 0. Registre-se que o regulamento da época não levava em conta o saldo de gols, apenas a vitória absoluta. Assim, os combatentes estavam empatados, restando-lhes uma prorrogação de 2 tempos de 15 minutos cada. Não cedendo à pressão, Tião juntou seus jogadores e profetizou: “Esqueçam o placar da partida passada, vamos comer grama! Esse título não sai daqui. Acredito em vocês!” O esforço conjunto do time rendeu o esperado sucesso: 1 a 0. Apesar dos entraves, a equipe se manteve firme. O êxito coletivo foi um reflexo da fé e da união forjada pelo técnico.
Com o título, Tião Café não apenas se consagrou como técnico, mas também como um líder que inspirava seus jogadores a irem além dos seus limites. Em sequência, ele conduziu o Independente a inúmeras vitórias – incluindo o pentacampeonato na Liga Esportiva de Lavras e o tricampeonato do Sul Mineiro da Liga de Varginha. Uma bela história para consolar minha falta de bater uma bola e também resgatar a esperança perdida em nosso futebol! Afinal, uma paixão é sempre uma paixão.

Maxmiller Hübner

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