Num fim de tarde de uma sexta-feira, Joyce e eu decidimos fugir.
– Oh Joyce, vamos brincar de fugir? – sugeri.
– Vamos, mas pra onde? – empolgou-se Joyce.
– Que tal pra rua de cima, atrás do fusca que fica ao lado do bar do seu Zé?
– Legal, vamos!
E, então, montamos um plano de fuga, uma pegava a chave do portão, e a outra vigiava as nossas mães.
Já estávamos fora de casa, subindo a rua em direção ao fusca, carregando uma boneca, uma bola e um saco de balas – na nossa cabeça de criança era tudo o que precisávamos.
– Jeane, fica vigiando pra ver se ninguém tá vindo. – alertou Joyce.
– Tá bom, se alguém vier eu falo. – respondi empolgada.
Sentamos na mureta e comemos balas, quando percebi uma movimentação. Estavam na rua, a nossa procura, a minha mãe, a mãe da Joyce, a minha tia e uma vizinha.
– Joyce, elas estão caçando a gente. – caímos na gargalhada.
– JEANE! JOYCE! CADÊ VOCÊS?! – gritavam desesperadas. Até que a vizinha nos avistou e avisou as nossas mães.
– Acho que elas viram a gente. – Joyce me cutucou, vendo minha mãe subir a rua, com um chinelo na mão.
Não pensei duas vezes, saí correndo, dando voltas no fusca, enquanto minha mãe tentava me catar. Quando me alcançou, segurou meu braço, e enquanto o chinelo estralava, ela soletrava:
– Q U E R O V E R V O C Ê F A Z E R I S S O D E N O V O, M E N I N A!
Feliz dia das crianças!
Elisa Lima