Pseudodemocracia

21 de novembro de 2016 19:16 2413

Certas coisas nunca fizeram sentido pra mim: a criação do universo; nosso destino quando morremos; como foi descoberto que um simples milho junto ao óleo e ao calor do fogo se transformaria5 em algo delicioso. Com o passar do tempo, essas dúvidas não foram esclarecidas. Mesmo sabendo que existem muitas teorias a respeito, é como se eu me sentisse bem com essas frequentes indagações. Sempre me pareceu desnecessário ter certeza de algo, como se as respostas pudessem me frustrar. Então, preferi acreditar na existência de Papai Noel.
Às vezes me pergunto como surgiu a corrupção. No sentido mais óbvio da palavra, corrupção significa ruptura de um trato. Mas não é qualquer ruptura. É o uso do poder para benefícios próprios, o que viola a conduta moral legítima de um país ou nação. Corrupção não me parece apenas um conceito, mas uma realidade. E a constância dessa indagação não me deixava confortável como as dúvidas sobre a criação do universo. Não acredito que seja devido a seriedade do assunto, mas pelo fato disso atingir tantas pessoas em todo o mundo (mas, como ele surgiu?).
Eu sempre fui o tipo de pessoa indiferente a assuntos políticos. Sempre fugi disso. “Aquilo que ocorre em Brasília não me afeta” (como se a política só estivesse presente lá). Porém, de um tempo (ou, de alguns acontecimentos) pra cá, venho refletindo sobre cada uma das ações realizadas lá, no centrinho político, com certo desgosto. Não domino todo conteúdo histórico brasileiro, mas pelo fato de presenciar algo que acredito ter sido um golpe e, a partir daí ver a cada dia, decisões tomadas por pessoas que têm consciência de que nada afetará seus bolsos, passei a observar o que isso aqui está virando: um show de horrores? Talvez seja muito mais do que isso.
Nunca ouvi tanta asneira vinda de um setor que, no mínimo, deveria ter consciência da realidade encontrada nesse país. Falas que demonstram, a cada reunião no plenário e em outros locais de “desabafo” político, ignorância, egocentrismo e falta de percepção.
Sim, é muito mais cabível politicamente afirmar que os gastos públicos estão presentes em programas assistencialistas, saúde, educação e salário mínimo (“mínimo”: não é contraditório?!) a aceitar o problema de má distribuição de renda, impostos que possuem apenas passagem de ida e investimento invisível na educação pública e saúde.
Mas dizem que tudo isso não é problema de um único Poder, Ministério ou partido, mas sim, de todo o país, e segundo Henrique Meirelles e Dyogo Henrique de Oliveira, que assinaram a Proposta de Emenda à Constituição, todo o país terá que colaborar para solucioná-lo. “Todo o país” é a população, o proletariado, os estudantes, o povo. Afinal, eles sim já estão sentindo na pele as consequências da PEC 241 (e sentirão por duas décadas caso for mesmo aprovada). Enquanto presidente, deputados, senadores e companhia limitada, apenas ditam as regras do que será feito, desde que suas contas bancárias continuem transbordando.
“É preciso enxugar regalias dos professores para equilibrar cofres de estados e municípios”, diz governo federal. Sim, concordo. Regalia é ser violentado física e verbalmente por determinados alunos. Regalia é levar centenas de provas e trabalhos para corrigir em casa, de madrugada. Regalia é o cansaço psíquico e, mesmo assim, a satisfação em dar aula, e transmitir conhecimento. Regalia é o esforço, na situação política atual no país, em expor a importância do pensamento crítico. É, acima de tudo, ter força para poder enfrentar cada jornada de trabalho, sabendo que na mente desses políticos, que só precisam comparecer às reuniões para não ter descontos ínfimos no salário, cada aula dada e cada direito adquirido são chamados de regalias.
“As 40 pessoas que estão quebrando carro? Precisa perguntar para os 204 milhões de brasileiros e para os membros do Congresso Nacional que resolveram decretar o impeachment”, disse Temer em entrevista para jornalistas brasileiros em Hangzhou, China, sobre protestos contra seu governo. Parece-me que culpar os outros é somente o que o presidente interino consegue fazer, ao invés de olhar para o próprio umbigo e se conformar que o motivo de tantas manifestações é tudo o que ele tem feito com o propósito de “melhorar” o país e reestruturar a economia. Ele está no caminho certo, agindo como um ditador, o qual não ouve os reais interesses da população.
Sempre me perguntei por que o Brasil não vai pra frente. Talvez seja devido ao fato de que temos o nome de democracia, mas, na realidade, só é democracia quando a população é leiga e não luta por seus próprios interesses, (ora, esse é o objetivo da reforma do ensino médio). Caso contrário, como ocorre atualmente, a força bruta policial é utilizada para evitar manifestos; e estudantes que ocupam escolas e universidades são recebidos com ameaças pelos ministérios e suas vozes não são ouvidas. Logo, enquanto formos marionetes manipuladas pelo Estado, tudo bem! Em contrapartida, se mostrarmos que não estamos passivos em relação a tudo o que vem ocorrendo, a história já é outra.
Vivemos numa pseudodemocracia. E queremos mudanças!


*Mileny Cristina dos Santos Pinheiro
Estudante do 2º período de Jornalismo,
do Centro Universitário do Sul de Minas, (UNIS-MG)

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