Quem cuida de quem cuida?

8 de março de 2022 10:05 859

No dia a dia da Casa de Apoio Renascer temos contato com diversas mulheres que passaram e/ou passam pelo tratamento dos mais variados tipos de câncer.
Além delas, também conhecemos as mulheres afetadas indiretamente pela doença: aquelas que tiveram ou têm familiares e amigos diagnosticados, servindo muitas vezes de âncora para o paciente. Conversamos com algumas dessas guerreiras para conhecer suas histórias e, de alguma forma, homenagear não só elas, mas todas aquelas que têm a força redobrada para manter firmes as pessoas próximas que tiveram este diagnóstico.
Conheça abaixo a história de Luciana, Márcia e Rosy, moradoras de Perdões; e Ludmilla e Nila, moradoras de Santo Antônio do Amparo.

Luciana Ribeiro, 38 anos, auxiliar de costureira

Como o câncer entrou na sua vida?
Através do meu marido, Dalmi Alves Cardoso. Ele começou a ficar rouco, perder a voz, sentia umas irritações na garganta. Ele ficava só adiando, achava que não era nada demais. Quando ele resolveu ir na Dra. Ana Cláudia, ela pediu o ultrassom e viu que era o câncer da tireoide.
O que você sentiu no momento do diagnóstico?
Senti um baque, eu não esperava isso na minha família. Senti um baque muito forte, muito medo.
De onde você tirou forças para passar essa força ao seu esposo?
Tirei força nos familiares, amigos também e em Deus, muita fé em Deus.
Além de guerreira, quem é você, Luciana? Quais são seus sonhos? Seus maiores medos?
Meu sonho é poder dar um futuro pros meus filhos, melhoras para meu esposo: quero ver ele bem, que ele se recupere… Não vejo a hora de o médico dar a notícia que ele foi curado do câncer.
Mensagem para o Dia da Mulher:
Queria dizer para elas não desistirem: não desistam dos seus sonhos, vão à luta, e confiem em Deus, aquele que é o nosso Pai, sempre. Confiar sempre Nele, agarrar nas mãos Dele e sempre acreditar que dias melhores virão. Queria também agradecer à Casa Renascer, que ajudou muito. Todo mundo lá foi muito atencioso com a gente, ajudou nos remédios dele também, com cestas básicas que a gente precisou porque afetou a situação financeira, psicológica. Então agradeço a todos.

Rosemery Aparecida Belchior, 38 anos, funcionária pública

Como o câncer entrou na sua vida?
Pelo meu filho, Pedro Henrique Belchior. Apareceu um carocinho na região inguinal. Pelos exames que ele havia feito, deu-se a entender que era uma hérnia. Foi marcada a cirurgia para remoção da hérnia, só que na hora da cirurgia, o médico abriu e viu que não era simplesmente uma hérnia. Foram realizados mais exames e chegou-se à conclusão de que se tratava de um tumor maligno (sarcoma sinovial). Ele graças a Deus terminou o tratamento em agosto de 2018 e agora está só em acompanhamento.
O que sentiu quando soube do diagnóstico?
A gente sempre acha que vai acontecer com vizinho, com um parente próximo, mas nunca na casa da gente. Então na hora que a gente escuta um diagnóstico desse, a gente perde o chão. Quando o médico me falou que era um câncer maligno, eu senti mal mesmo, tive falta de ar, senti minha pressão cair, me deu ânsia de vômito, porque infelizmente a gente vê tanto sofrimento, tantas pessoas encarando essa doença, não é fácil. E a gente pensa: “Oh, meu Deus, por que com a gente?”.
De onde você tirou forças para passar por essa fase difícil?
Primeiramente foi Deus, depois a família, a oração das pessoas. Por isso que é muito importante a gente rezar pelos outros porque num momento desse de sofrimento, por mais que a gente crê em Deus, a gente não aguenta nem rezar. Por isso que a gente tem que estar sempre abastecendo a oração porque na hora que a gente passar pelo apuro, já está fortalecido.
Além de guerreira, quem é você, Rosy? Quais são seus sonhos? Seus maiores medos?
Me sinto uma pessoa feliz, uma mãe dedicada aos filhos, uma esposa harmoniosa, paciente. Eu sinto medo às vezes do futuro, a gente não sabe o que está para passar, o que está para acontecer. Eu procuro sempre buscar a força em Deus nas orações porque com Deus a gente vence todas as dificuldades, vence todo o sofrimento e mantém a paz, que é o que a gente precisa.

Márcia Muquem Salgado, 50 anos, do lar

Como o câncer entrou na sua vida?
O câncer entrou na minha vida através do meu marido, Marco Antônio dos Santos Salgado, diagnosticado com câncer no pâncreas. Foi muito rápido, ele estava trabalhando, vida normal, ele sentiu uma dor, aí procuramos um médico. Mas devido a agressividade da doença, ele veio a óbito.
O que sentiu quando soube do diagnóstico?
Eu já desconfiava que ele estava com câncer. Desde que ele começou com os sintomas, havia uma voz que me falava que ele estava doente e que eu passaria por uma fase difícil. Eu o coloquei nas mãos de Deus, mas foi um susto para todos nós.
De onde você tirou forças para passar essa força ao seu esposo?
O que me deu forças foi saber que eu fui uma mulher muito amada.
Não é fácil você ver o amor da sua vida ir embora, mas o que você quer para uma pessoa que você ama? Que ela esteja bem. O que resta hoje é a saudade, o amor que ninguém vai tirar de dentro de mim, as lembranças boas.
Mensagem para o Dia da Mulher:
Desejo a todas as mulheres força, fé. E quando a gente tem fé e amor, tudo dá certo, seja o certo que muita gente acha que não é certo porque a pessoa se foi, tudo dá certo. Como dizia ele (meu esposo): “Tá tudo combinado”.

Ludmilla Vitória de Jesus Silva, 14 anos, estudante

Como o câncer entrou na sua vida?
Quem teve foi minha mãe, Ana Carolina de Jesus Silva, diagnosticada com linfoma de Hodgkin nodular. Quando eu descobri eu fiquei muito abalada, não consegui acreditar e eu fiquei muito triste, mas eu vi que tinha que estar do lado dela pra ela conseguir vencer isso junto comigo e com meu irmão.
O que você sentiu quando soube do diagnóstico?
Ela chegou em casa e falou que não ia mentir pra mim e pro meu irmão. Se eu não me engano, eu tinha acabado de chegar da escola. Aí foi quando ela contou. Nós duas começamos a chorar e eu não consegui acreditar, até hoje eu não acredito que ela teve câncer.
De onde você tirou forças?
Eu pensei que se eu mostrasse pra ela que eu estava triste, ela ia ficar muito preocupada e não ia conseguir, mas eu mostrei positividade, eu estava do lado dela, ajudava ela em tudo. Eu estava sempre do lado dela.
Além de guerreira, quem é você, Ludmilla? Quais são seus sonhos? Seus maiores medos?
Eu gosto muito de falar, eu tenho o sonho de ser médica veterinária ou cozinhar. Gosto muito de animais. Eu tinha um cachorrinho quando nos mudamos para cá, só que ele faleceu. Depois disso, ficamos muito tristes e arrumamos um peixe, porque como a mãe fez transplante, ela não pode com pelo. Mas estou fazendo a cabeça dela para adotar um outro cachorro (risos).
Mensagem para o Dia da Mulher:
Eu acho que toda mulher é forte o suficiente pra aguentar isso, mas tem umas que acham que não vão conseguir, mas acabam conseguindo. Então eu acho que se a gente pensar tanto que não vai conseguir, isso é pior porque não vai ajudar em nada. Então acho que toda mulher deve ser forte e pensar positivo.

Marcionilia Aparecida Rufino (Nila), 30 anos, do lar.

Como o câncer entrou na sua vida?
Sou neta do Sr. Álvaro Rufino (como ele me criou, o considero como pai), diagnosticado com 3 tipos de cânceres, o que foi uma batalha muito grande em nossa vida por não sabermos como lidar com a situação.
O que sentiu quando ele recebeu o diagnóstico?
Eu não estava com ele, ele estava com a minha tia. Ela chegou, passou todas as informações que o médico deu. Foi um susto e tanto porque a gente não esperava. Pelas histórias que a gente vem vendo, tinha muito medo de perder ele, mas graças a Deus ele é muito forte, tem muita fé, o que nos ajudou muito.
De onde surgiu a força para passar por essa fase?
De Deus. Deus, amigos, dos médicos, dos familiares todos… Nós tínhamos que passar uma tranquilidade a ele.
Além de guerreira, quem é você, Nila? Quais são seus sonhos? Seus maiores medos?
Sou mais calada, mas precisando de mim, sempre estou às ordens. Mesmo não tendo as coisas ao meu alcance, eu tento fazer o possível para poder ajudar as pessoas. Medo hoje eu não tenho mais, porque antes eu tinha muito medo. Deus vai tirando o medo da gente e a gente vai superando cada obstáculo que a vida põe no caminho. E meu maior sonho é poder ajudar as pessoas, não só que tenham câncer, mas qualquer outro tipo de dificuldade que estiver passando. O meu maior sonho mesmo é que um dia esse câncer acabe todo e que não tenha mais essa doença.
Mensagem para o Dia da Mulher:
Quero deixar para todas as mulheres que nunca percam a fé, que sempre corram atrás dos seus objetivos, que lutem e que nunca, mas nunca mesmo, deixem a fé morrer por dentro delas, que se cuidem, façam os exames todos e, mesmo recebendo a notícia, que não apavorem, que ponham tudo nas mãos de Deus que será resolvido.

Deixamos também nossa homenagem a todas as mulheres: as que compõem a equipe
Renascer; àquelas que são parceiras de nossa causa e a todas aquelas que “cuidam,

mas também precisam ser cuidadas”.

Entrevistas e Fotos: Mileny Pinheiro – jornalista, diretora de eventos da Casa de Apoio Renascer

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